domingo, 22 de julho de 2018

a teoria do primo pobre

Visualizar o crescimento de um núcleo de parentesco é prerrogativa para compreender a "teoria do primo pobre". O alargamento de uma família, conforme vai se reproduzindo um tipo familiar, acaba por gerar o distanciamento do elemento que confere vitalidade aos membros do grupo familiar. Nas franjas do núcleo de parentesco estarão os netos e os sobrinhos, que deixarão de desfrutar, naturalmente, das comodidades da reciprocidade positiva. Isto é um fato tendencial. Destituídos do reconhecimento como membros mais efetivos do grupo primordial, aqueles primos que não se encaixarem nas dinâmicas de aproximação interpessoal genuína, aqueles primos cujas afinidades se distanciarão daquelas do núcleo original, viverão a experiência de primos pobres. Ora, a própria noção de falta de afinidade é um reflexo dessa estrutura parental que suporta apenas uma operacionalidade limite de combinações relacionais, e a afinidade, ou a falta dela, é a expressão fenomenológica de uma predisposição concreta. Na própria lógica da reprodução biológica, os elementos que conferem eficácia simbólica individual são escassos; e o insulamento dos relativamente marginalizados é uma espécie de regra. O tácito desprezo pelo primo pobre gera-lhe dada confusão, e a expressão incoerente, de aparente engano e dificuldade expressiva, é sintoma desse funcionamento metassocial de desenvolvimento biológico orquestrado pela natureza. O reforço desse insulamento como consequência da expressão indgnada e parcialmente incompreensível, crítica e odiosa, e o correspondente reconhecimento da demanda recalcada, finalmente expressa, por parte de outros aparentados, fazem esse primo pobre, esse cavaleiro quixotesco, esse sociólogo avant la lettre iniciar um movimento de preparo para a ação que renderá os benefícios necessários para o reordenamento dessa eficácia simbólica, os seus benefícios de saúde auto-honorífica, aquilo que atenderá às suas demandas vitais. Quanto mais simples a sociedade, mais minimalista, menor é o custo de oportunidade de partir em diáspora e buscar amigos e aliados para formar sua própria nação. Quanto mais complexa, maior é esse custo de oportunidade, e a batalha travada passa a ser no interior da sociedade, o que implica em pressões, pela via moral, para a transformação da estrutura social-produtiva e distributiva. 

Nenhum comentário: