terça-feira, 17 de dezembro de 2019

quarto experimento do escrever livre

toda vez que me perguntei por que eu falho tanto,
obtive respostas reticentes.
ninguém tem culpa, ainda que haja um motivo.
perguntando-me sobre a natureza do motivo,
expressei a minha incompreensão sobre o desdobramento do presente:
o tempo perdido pelo desaviso...
a ilusão de que a possibilidade de melhora no futuro basta
e de que o esquecimento pode operar com a mesma força que a juventude sustentam as nossas boas disposições físicas.
o outro venceu mesmo.
eu perdi sim.
enquanto o dia passa para o gozo de uns,
alguns outros esperam a sua glória,
remoem as suas derrotas agarrando-se na esperança de conseguirem mudar;
e eu de repente conseguirei esquecer a falta de sentido
e algumas batidas aceleradas no peito
com alguma distração ignóbil como escrever
para ninguém ler.

por minha falta de sorte,
quando eu paro de fazer algo com as mãos e começo a pensar,
meu pensamento me guia para uma distração perigosa:
a mente em plena preocupação não é um bom lugar para se pendurarem espelhos.
eu retorno para o meu ofício de escritor aflito e desejoso de certa liberdade --
liberdade a que me condicionei para escrever esses textos,
uma vez que possam também nunca ser publicados,
por vergonha e por medo.
em algum lugar eu queria buscar o meu ultrarromântico,
o meu poeta do inexplicável,
mas há sempre uma pedra no meio do caminho.

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