sexta-feira, 13 de dezembro de 2019

terceiro experimento do escrever livre

escangalhei-me com tantas tentativas e erro, com mais erro do que acerto.
dentro em breve não sei o que vai ser, o que vou fazer, mas continuo escrevendo.
sou incitado a esboçar muitas teorias -- em vão, pois não me aceitam em nenhuma instituição.
sigo, como posso, como quero, buscando o poeta dentro de mim.
antes eu achava que os artistas eram os sortudos.
que faziam o que queriam, que escolhiam mais do que necessitavam e que eram, por isso, mais felizes.
hoje já me deparo com o contrário.
quando dizem que a arte é o espaço da resistência, agora entendo que é porque é na arte que mesmo as coisas rejeitáveis podem ter o seu espaço de escuta.
a arte é independente, autônoma, como se diz, diferente dos outros domínios das humanidades, e por isso se pode dizer o que se quer.
portanto, paradoxalmente, pelas vias oblíquas, a arte é, sim, o espaço da liberdade e de se fazer o que se quer, mas porque não se pode fazer o que se quer em parte alguma.
Infelizmente -- ou ao menos esse tem sido o meu caso -- os artistas tentam muito em outras partes e raramente conseguem.
raramente conseguem com a arte também: ela é o que lhes resta, contudo.
a sorte deles, quando ela surge, é que o olhar dos que apreciam a arte está por aí buscando aquelas intuições e aquelas novidades que não são usuais nem estão dispostas facilmente nas academias.
se o artista tiver essa sorte, será encontrado e compreendido, e aí sim se pode dizer que ele será o mais feliz de todos os humanos.
enquanto isso não acontece, o artista é circunscrito ao mundo dos desenganados pela vida, que buscam distanciar-se do ridículo de não portarem a insígnia de nada governamental ou institucional que ofereça aos outros e a ele a certeza de que se está em um bom caminho, coerente, significativo.
a liberdade do artista é quase uma consequência da sua inadequação, que vai se comprovando ao longo doas anos da sua formação.
cada vez mais ele é empurrado para a arte pelos seus insucessos.
a sua superficialidade anda pari pasu com sua intuitividade, que apenas se expressa dessa maneira superficial porque não há no mundo ainda nada que possa suportar a inovação proposta por essa mente pensante sui generis.

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