quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

o abjetismo conceitual

Por que deve a liberdade de expressão existir? Pergunto-me isso tendo em mente a ideia de um imperativo categórico; porque, do ponto de vista do moralmente certo, a liberdade de expressão, uma vez alcançado aquilo que é correto de se pensar, deveria ser suprimida. Mas como alguém poderia saber o que é correto de se pensar, se não houvesse o errado de se pensar a circular pelas ondas das nossas anteninhas de formigas, para que pudéssemos repulsá-lo com todo o nosso nojo e toda nossa razão? O ambíguo papel daquele que toma a coragem de ofender o público se mostra tão asqueroso quanto inevitável; tão ultrajante como desejável; tão denegável quanto necessário. As excrescências de muitas das mentes perturbadas, elencadas por uma lógica repreensível, são o baluarte de uma sociedade que oferece o seu cabrito aos deuses. Cultuar o erro talvez seja, em seu sentido histórico-moral, um exercício hermenêutico, que não pode tomar o caminho do erro como o certo. A hermenêutica do elogio à expressão abjeta deve estar cercada por um policiamento moral kantiano, fazendo do riso, da repulsa, do gozo do observador do mal um rito, que encaminhará semelhante sentimento às cinzas do passado, para ser destruído com um martelo. Melhor ainda: para ser cortado a foice.

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