terça-feira, 11 de fevereiro de 2020

suicídio na night

Matar-se em uma festa deve ser um dos maiores prazeres que há: os outros convivas estarrecidos, principalmente se for uma festa que muitos conhecidos frequentem. A pergunta não vai querer calar, e a repercussão corre o risco de ser perpétua. Matar-se em uma festa tem o poder de derrubar o astral de todo mundo tanto, que talvez questionem-se, mesmo que por alguns segundos, o caráter hediondo de muitos dos seus festejares. Matar-se em uma festa com conhecidos, então, responsabiliza-os pelos seus atos e pelas suas omissões e expõe a verdade por trás de todo suicida: não a sua psyché, mas a sua sociologia. Só de imaginar as pessoas todas saindo, pensando que pretenderão mudar, e os algo-amigos, achando que deveriam ter te ajudado mais, percebendo que não fizeram o último que poderiam ter feito... O pensamento que invadirá a festa e os presentes surtirá o efeito do ódio que eu senti por não conseguir as coisas achando ser por azar: quando, na verdade, eu escondia de mim mesmo que eu sabia que a puerilidade humana era capaz de gerar abortos como eu, rejeitos de um corpo capaz de celebrar, ao meu arrepio.

Nenhum comentário: