Pouco se vê, na prática, a diferença entre alguém livre e alguém que não é.
Esconder a escravidão é o primeiro desejo do escravo, porque quer, ao menos,
imaginar-se livre. Quem é escravo é sempre escravo de alguém, ainda que essa
condição esteja abrigada pela estrutura do sistema. A escravidão se aprende ao
longo da vida, ela aparenta ser uma escolha moral, mas é uma conscrição. Todos
nós somos determinados pelos nossos inconscientes a realizar ações que
imaginamos ser conscientes. Sob o véu da ética, acabamos vassalos; e, de vassalos
para escravos, a distância é curta. Vassalos são escravos, e escravos deixam de
ser escravos para serem vassalos, no máximo, porque o perigo de viver sem nenhuma proteção
no mundo constrange os sujeitos livres em direito a buscar um apoio. E, como a
propriedade é sempre privada, pelo menos até agora tem sido assim, dependemos da
proteção, mesmo que quase no intangível, de alguém. Uma espécie de corporação
substitui a corrente, e adotamos certa conduta moral ou outra por puro apreço ao
modo de organização em que nascemos. Quebrar isso é muito difícil, e os perigos
da vida mostram-nos bem. Os seres livres somente o são, porque também desprezam a
proteção, então não se importam em pilhar. E, assim como um assaltante pode
roubar uma pobre senhora trabalhadora, que pouco tem a oferecer, os escravos da
mentalidade senhorial também sofrem os reveses de um retorno para casa em uma
rua mal-iluminada, de serem afanados com sutileza, nesse mundo em que a
liberdade e a servidão se misturam aos olhos não treinados. A servidão pode
criar pessoas bem cuidadas em aparência, mas servas.
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