segunda-feira, 1 de abril de 2024

significante servil

Pouco se vê, na prática, a diferença entre alguém livre e alguém que não é. Esconder a escravidão é o primeiro desejo do escravo, porque quer, ao menos, imaginar-se livre. Quem é escravo é sempre escravo de alguém, ainda que essa condição esteja abrigada pela estrutura do sistema. A escravidão se aprende ao longo da vida, ela aparenta ser uma escolha moral, mas é uma conscrição. Todos nós somos determinados pelos nossos inconscientes a realizar ações que imaginamos ser conscientes. Sob o véu da ética, acabamos vassalos; e, de vassalos para escravos, a distância é curta. Vassalos são escravos, e escravos deixam de ser escravos para serem vassalos, no máximo, porque o perigo de viver sem nenhuma proteção no mundo constrange os sujeitos livres em direito a buscar um apoio. E, como a propriedade é sempre privada, pelo menos até agora tem sido assim, dependemos da proteção, mesmo que quase no intangível, de alguém. Uma espécie de corporação substitui a corrente, e adotamos certa conduta moral ou outra por puro apreço ao modo de organização em que nascemos. Quebrar isso é muito difícil, e os perigos da vida mostram-nos bem. Os seres livres somente o são, porque também desprezam a proteção, então não se importam em pilhar. E, assim como um assaltante pode roubar uma pobre senhora trabalhadora, que pouco tem a oferecer, os escravos da mentalidade senhorial também sofrem os reveses de um retorno para casa em uma rua mal-iluminada, de serem afanados com sutileza, nesse mundo em que a liberdade e a servidão se misturam aos olhos não treinados. A servidão pode criar pessoas bem cuidadas em aparência, mas servas.

Nenhum comentário: