quinta-feira, 13 de novembro de 2008

Libertação. Essa palavra vai nos tirar da fossa em que o romantismo nos atirou. Enquanto os românticos, antagônicos ao arcadismo, concebiam a cidade como inevitável fim e viam no campo sua infância querida, a aurora de sua vida irresgatável, a humanidade, em virtude dessa mentalidade romântica, cavou sua prórpia fossa, vendo que a cidade era onde tudo iria terminar e que o campo não tinha mais volta. E a cidade romântica é byronista, é noite na taverna.
Os tempos mudara. E se mudaram, mas a mentalidade demora um pouco. O último suspiro árcade, o movimento hippie, entrou pelo cano. Quando o mundo não permite mais que se tenha uma terra no mato sem que se pague impostos, a idealização árcade se implode. A medida que o mundo extingue com a ruralidade e torna a vida urbana não mais como uma conseqüência de cercamentos de campos, ou seja, uma conseqüência que trouxe malefícios, uma conseqüência que rompe bruscamente com as raízes culturais das pessoas, a medida que a vida na urbana se torna a raíz cultural de todos, é o momento de dizer tchau de vez aos árcades e abandonar essa melancolia romântica chata. É tempo de libertação. Se o problema dos românticos era ter que viver nas cidades, enfrentar os problemas que não existiam no campo, resgatar a cultura feudal para identifica-se, nós, contemporâneos, já nascemos na cidade, nossas raízes são outras - ou quem sabe nenhuma. Nossa raíz é tudo o que a cidade oferece. Talvez estajamos numa época ufanista em relação à cidadde, visto que, segundo a ONU, mais da metade da população mundial já vive nas cidades, e por isso entendamos que a cidade oferece realmente o que há de melhor. Mudamos a concepção da vida na cidade - acho que o american way of life ajudou muito. O mundo busca a cidade, por mais que não seja uma vontade, mas as esperanças que o desenvolvimento traz para muitos países espelha uma libertação dos paradigmas rurais, tais como culturas conservadores e paternalismos, o que traz para a literatura a valorização do que o ubrano oferece: informação, liberdade e questionamento. Entquanto para os românticos a natureza era o que os determinava e, portanto, a fuga dela era melancólica, nós, contemporâneos e urbanóides, vemos na indigência da cidade o valor da dúvida, das estragações ébrias, da velocidade, da efemeridade, da efervescência. Por não conhecermos tudo a nossa volta nas grandes cidades - algo impossível numa cidade como o Rio - é que nos sentimos enraizados. O conhecer tudo, possível em um pequeno vilarejo no campo, é abominado pelos urbanóides, oq ue era valorizado pelos árcades e ainda pelos românticos. O que afligia aos românticos era a infinidade, e isso é o que nos deslumbra.

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