sexta-feira, 28 de maio de 2010

A crise do primeiro dia

Quando me dei conta de que éramos só nós dois na minha cama de solteiro, ninguém nos via, não resisti: levantei incrédulo o lençol que nos cobria - nos cobri e armazenava o nosso calor de dois sobrepostos, ao quadrado; levantei-o pra ter certeza de que era mesmo a sua perna encostada na minha, os seus pelos roçando com os meus, o seu corpo ali pra mim, comigo, deitado, nós dois pelados e eu te olhando enquanto você dormia. Ou talvez tenha sido uma olhadela de orgulho próprio, só para que eu mesmo pudesse entender - vendo - que eu, um sozinho no mundo, também conseguia, também me mexia e amava, como eu queria.

Depois, você ia embora contrariado, e eu quis ficar deitado olhando você se vestir: fechando a fivela e rindo pra mim como quem via que eu via.

E então você partia e não saberia mais - até quando? - se você voltaria, ah!, te conheço tão pouco! Me dá seu telefone! Eis a crise do primeiro dia.

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