domingo, 20 de fevereiro de 2011
O conforto se confundia com o espaçamento. Ao mesmo tempo em que se via que as cadeiras eram muito gostosas, elas ficavam dispostas umas distantes das outras - e eram poucas delas -, valorizando o branco do mármore do piso, o mar que aparecia atrás do vidro da varanda: havia uma seriedade naquela decoração que alguns poderiam se enganar e dizer "puxa, mas como é moderna", porque só enxergavam o arrojo que era proposto. A frieza que se escamoteava pela praia da vista e depois refletia naquele sorriso estranho, montado de Tunico ao me receber, com aqueles óculos escuros -- não havia nada de errado com os óculos escuros, e sim com Tunico. Eu nunca tinha reparado no tom frustrado que aquele sorriso refletia, só depois de alguns anos de convivência e de muitas horas de conversas regadas a uísque e histórias e desejos do passado que pude dar-me conta de quem era aquele homem rico, em sua cobertura, solteiro, na beira da piscina com três rapazes nas espreguiçadeiras. Tunico não era muito enrugado para seus anos, afinal tinha dinheiro o suficiente. O problema de Tunico é que ele nunca conseguiu ser aquilo que ele queria ser. Não que ele em algum momento tivesse conseguido saber, jamais conseguiu descobrir-se quanto a seus gostos, suas aspirações: foi tornando-se o que se tornou com muito pouca ajuda, com pouquíssimos amigos e com muito, muito trabalho sozinho.
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