Eu ouvi, lá do fundo de mim mesmo, aquilo que me ensinaram. Ouvi tão fundo, tão fundo que aquilo que ouvi era tudo o que era, eu vi que me conhecer sinceramente era o mesmo que conhecer as minhas vontades que era o mesmo que conhecer o meu mundo que era o mesmo que conhecer, dentre todas as possíveis possibilidades da moderna modernidade, aquilo que você está aprendendo a ser, reconhecendo-se, de novo e de novo e de novo. Ao ouvir esse chamado lá do fundo de mim mesmo eu percebi todo o sentido da existência no caos. Lá ao longe eu ouvia: e o caminho para chegar lá que tornara-se o problema, porque eu via, eu ouvia, eu sabia, quase intuitivamente, qual era a minha maior vontade, eu sabia o que era aquilo, tão novo, tão meu, que eu queria expressar, mas havia todo o processo e todo o processo fazia parte também daquilo que eu queria expressar. Era como se eu sentisse-me atraído por mim mesmo enquanto vontade de representar, enquanto impuslo a ser formalizado, e o processo até lá, lá esse que envolvia o processo, eu repito, é que era árduo. Mas existiam, então, duas opções: restar na inexpressão, na incompreensão, na masmorra, revoltado, indignado, escravizado e cansado desse trabalhão que ainda faltava, ou ia, seguia, perseguia, continuava, movido pelo motor de mover-se, a caminho, incansável, inabalável, um protestante comigo mesmo, com o meu estado de morbidez tradicional hedônica. Buscar a mim mesmo, eu descobri isso pelo caminho da vida, era o mesmo que viver todas as vicissitudes da nossa cultura: trabalhar, arduamente, e continuar trabalhando, focando a arte, a minha arte, aquilo que eu consigo expressar de mim mesmo, o melhor de mim mesmo, o meu objetivo maior, aquilo que, no final de tudo, eu gostaria de ser: racionalizar e racionalizar, porque quanto mais se racionaliza, mais se otimiza a sua produção de si mesmo, mais se descobre os caminhos dentro de si mesmo, dentro da sua cultura, cara, porque o sujeito e o objeto já se fundiram em um só, você é aquilo que é a sua cultura que é o objetivo individual que é a tentativa de estruturar a vida para que se coniga estruturar os pensamentos em direção à realização de si mesmo, de sua vontade e aqui eu decreto o fim da fé, pois o objetivo não está mais na inércia. Acontece que a razão, enquanto instância reguladora da história, sobrepôs-se à fé e, esquizofrenicamente, tenta sobrepor-se à cultura, e aí a nossa cultura virou a própria razão, que dse sobrepõe à cultura, que agora é a razão: a sobreposição da razão sobre a própria razão, e eternamente assim, um sobre o outro, o além do além do além do outro, e a estrutura se tornou cultura que se tornou estrutura e que se tornou cultura, e o que ninguém consegue não fazer é parar de pensar sobre si mesmo, o que trás conhecimento sobre o mundo como ele é, instável, pois as estruturas, a todo momento mutáveis, que são elas mesmas os conteúdos das nossas culturas, são o movimento constante das expressões estruturantes dos indivíduos quando tentam dizer a sua ideia, sempre fugaz, sobre o que é o mundo. O problema de tudo, meus caros, é que já se falou tanto que eu tenho medo de que, para conhecer-me, para conhecer minha cultura, eu deva ler realmente tudo o que foi dito, conhecer mesmo tudo o que já foi estruturado, para poder estruturar mais profundamente aquilo que sou eu, que é o mundo. (Não poderia ser algo mais antropológico?). O problema, e aí que talvez esteja a dicotomia moderno/pós-moderno, é o cansaço que a gente já sente ao ver todos os caminhos árduos necessários para concluir a minha expressão, que sempre vai mudar, porque movimento é o que mais há. O movimento, pra quem está parado, cansa, mas o motor do movimento é o próprio movimento e não se pode nunca ter parado: você está obrigado a andar e andar e andar, com a correnteza, e tentar ser o primeiro, guiar a correnteza, se quiser ser o melhor, mas saiba: alguém pode vir e te tirar do primeiro lugar, é só uma questão de dedicação protestante ao trabalho da razão prática - a prática racional da sua vida.
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