quarta-feira, 16 de abril de 2008

A Grande Injustiça Para um Rei

Um medo tomava conta da cabeça de quem ia se tornar um rei em poucos anos: o de chegar ao futuro e concluir que passou muito tempo sem ser o soberano de si próprio. Ainda pior: tinha medo de chegar lá na frente e ver que tinha passado a vida inteira pensando; nem sofrendo, nem alegre, pensando muito. Mas não havia o que fazer no momento. Tinha que aprender história, geografia, contabilidade, economia, retórica, filosofia e ele era bom nisso tudo. Absorvia rápido, manejava bem tudo, era realmente capacitado, era aquilo que faria e que deveria fazer da vida; o rei não podia ser outro.
Apesar disso tudo, só conseguia sentir que não era dono de si. Só conseguia pensar que escolhiam suas roupas, seu casamento, seus passeios, suas condutas. Algo, porém, poderia contentá-lo: sua mente - sentia-a separada de seu corpo.
Mas, antes que conseguisse se aprofundar nas suas próprias neuroses, antes de descobrir que tudo o que sentia era algo muito além daquilo que pensava ser, antes de tudo, algo que ele não podia prever: uma revolução burguesa. Guilhotina. Todo o projeto de lamento separou-se do seu corpo. Cabeça para um lado, por 3 segundos ainda observando, cáida dentro de um balde, e corpo para o outro, ainda preso à guilhotina, jorrando muito sangue, assim como a cabeça. Inertes, para sempre. Nem mente, nem corpo.

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