quarta-feira, 9 de abril de 2008

Um borrão insone

Cansado, um bagaço, em frente a um computador, não pára de procurar obrigações um pouco mais interessantes que aquelas que te deixam acordado esperando um pouco mais para só depois começar a fazê-la. Põe a desculpa de um projeto de vida, ou de um segundo compromisso adquirido, talvez inconscientemente para se desligar um pouco do que o deixa cansar mais. Pesquisou bastante, adiou bastante, a vista cansou, tudo passou a ser incerto, irreal, pesado; sua pálpebras pesavam muito, seu dedo, agora, não parava de bater e batia num bater tão leve que nem parecia ser alguma coisa que expressasse sentido. Mas pelo visto expressava, pois alguma coisa irreal para ele em sua mente dizia que estava fazendo sentido, que não importava se estava antes falando de cansaço e de razões do cansaço, e agora escrevendo sobre uma coisa aparentemente aleatória e desvinculada, apesar de ainda assim ligada a cansaço. É claro, estava cansado, um bagaço, moribundo, tudo sem peso algum mas tudo muito pesado, graças às malditas pálpabras que, como já disse, pesavam absurdamente. Não sabia mais diferenciar se tinha olheira ou não, se aquilo era um rosto apresentável, se estava sabendo o que estava fazendo, se lembrava-se de antes estar ficando maluco com tudo o que estava acontecendo, com todas aquelas cobranças sobre ele; sentia-se um trabalhador industrial na década de 20, sem nenhuma garantia trabalhista, mais de oito horas diárias, cansaço, cansaço, cansaço. Não morreu para acabar com a história, não desistiu para desestimular a leitura, apenas entubou. Ou melhor, estava tão cansado e tão atarefado que preferiu descansar um pouco mais digitando uma palhaçadinha do que tomar forças para mudar de direção as velas do barco. Estava tão cansado que ainda teria que se preparar para dormir - e isso cansava também -, e só faria isso depois de estudar. Cansado, um bagaço.

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