Andava pensando sobre desconstrução. Nos dois sentidos. Vinha pensando em desconstrução há uns dias, lendo Nietzsche, pensando no índivíduo como única coisa no mundo e como tudo que existia já estava construído e como era preciso desconstruir para construir individualmente. Quando andava em Copacabana, tinha acabado de acender um cigarro e vejo um mendigo, muito novo ainda, uma criança de 10 anos, vindo em minha direção e eu já ia responder: não - ele certamente pediria meu cigarro para fumar crack, seja lá como eles fazem isso - mas ele me estendeu a mão, oferencendo um punhado de pipoca que tinha ganho de um pipoqueira qualquer na rua e eu respondi, não quero não, valeu, e ele riu, divertido. Sempre me ensinaram a comparar o Super-homem com uma criança, e aquilo parecia uma perfeita comparação para o ideal de desconstrução e reconstrução nietzscheana: a criança exercita muito mais do que os adultos o seu lado dionisíaco. A criança ainda não foi "contaminada" pelas construções todas já estabelecidas. Ela é capaz de manter o equilíbrio entre Apolo e Dionísio. E esse era o maior desejo de Nietzsche talvez, ver a humanidade reconstruída como uma criança, que exercita sua potencialidade dionisíaca, ver a humanidade como ele gostaria de se ver pra todo o eterno-retorno, senhor de si e divertindo-se. Pois eis que então me percebo pensando como ele, realmente a fim de conseguir viver como aquela criança, que desconstruiu tudo com seu super-humanismo. Passei mais adiante na rua e veio um outro, mais adulto, me pedir esmola educadamente, com dá licença e muito obrigado e eu dei e eu vi toda a força que ele viu a injustiça da moral cristã, da redenção e aceitação do status quo a custo de um Deus morto na cruz. Surtei, como ele. Me questionei sobre a eficiência da desconstrução, pensei no caos dos choques dos super-homens, na tradição em desconstrução que se estabeleceria na sociedade e a incoerência que havia em pregar à la Jesus uma desconstrução de valores para todos, isso acabaria virando uma tradição, ignorando totalmente o indivíduo em sua auto-construção, base de seu raciocínio. Achei melhor deixar claro pra mim mesmo como eu havia me formado, o que poderia ter guiado meu pensamento. Quem não entendeu Nietzsche não pode seguí-lo, mas, se seguirmos nós mesmos individualmente estaremos fazendo o que ele nos aconselhou e, se não o fizermos, também, por que ele, no final de tudo, não acredita mais em si mesmo, com o medo de ser idolatrado. O que fazer? Sussudio. Simbolismo, decadentismo e, num futuro próximo, metalinguagem. Caí na incoerência da modernidade, da pós-modernidade, da pós-pós-modernidade, num diálogo eterno com o nihilismo, em críticas à razão, sempre impura.
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