domingo, 1 de fevereiro de 2009

dilema da desconstrução fundamentada

Andava pensando sobre desconstrução. Nos dois sentidos. Vinha pensando em desconstrução há uns dias, lendo Nietzsche, pensando no índivíduo como única coisa no mundo e como tudo que existia já estava construído e como era preciso desconstruir para construir individualmente. Quando andava em Copacabana, tinha acabado de acender um cigarro e vejo um mendigo, muito novo ainda, uma criança de 10 anos, vindo em minha direção e eu já ia responder: não - ele certamente pediria meu cigarro para fumar crack, seja lá como eles fazem isso - mas ele me estendeu a mão, oferencendo um punhado de pipoca que tinha ganho de um pipoqueira qualquer na rua e eu respondi, não quero não, valeu, e ele riu, divertido. Sempre me ensinaram a comparar o Super-homem com uma criança, e aquilo parecia uma perfeita comparação para o ideal de desconstrução e reconstrução nietzscheana: a criança exercita muito mais do que os adultos o seu lado dionisíaco. A criança ainda não foi "contaminada" pelas construções todas já estabelecidas. Ela é capaz de manter o equilíbrio entre Apolo e Dionísio. E esse era o maior desejo de Nietzsche talvez, ver a humanidade reconstruída como uma criança, que exercita sua potencialidade dionisíaca, ver a humanidade como ele gostaria de se ver pra todo o eterno-retorno, senhor de si e divertindo-se. Pois eis que então me percebo pensando como ele, realmente a fim de conseguir viver como aquela criança, que desconstruiu tudo com seu super-humanismo. Passei mais adiante na rua e veio um outro, mais adulto, me pedir esmola educadamente, com dá licença e muito obrigado e eu dei e eu vi toda a força que ele viu a injustiça da moral cristã, da redenção e aceitação do status quo a custo de um Deus morto na cruz. Surtei, como ele. Me questionei sobre a eficiência da desconstrução, pensei no caos dos choques dos super-homens, na tradição em desconstrução que se estabeleceria na sociedade e a incoerência que havia em pregar à la Jesus uma desconstrução de valores para todos, isso acabaria virando uma tradição, ignorando totalmente o indivíduo em sua auto-construção, base de seu raciocínio. Achei melhor deixar claro pra mim mesmo como eu havia me formado, o que poderia ter guiado meu pensamento. Quem não entendeu Nietzsche não pode seguí-lo, mas, se seguirmos nós mesmos individualmente estaremos fazendo o que ele nos aconselhou e, se não o fizermos, também, por que ele, no final de tudo, não acredita mais em si mesmo, com o medo de ser idolatrado. O que fazer? Sussudio. Simbolismo, decadentismo e, num futuro próximo, metalinguagem. Caí na incoerência da modernidade, da pós-modernidade, da pós-pós-modernidade, num diálogo eterno com o nihilismo, em críticas à razão, sempre impura.

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