terça-feira, 28 de abril de 2009

condição macaca e suas origens genealógicas

Por mais que se tente, por mais que qualquer modernismo trabalhe para superar qualquer resquício árcade - e talvez passadista - da mentalidade humana, eu digo que é possível que isso nunca venha de fato a acontecer. A cidade é uma consequência do campo. Em muitos aspectos, e o primeiro que vem à mente é o histórico, que é o mais óbvio. Mas há também uma questão econômica e, de certa forma, sócio-política - que assunto econômico que não se pode chafurdar seu aspecto sócio-político e vice-versa? A cidade surgiu com o desenvolvimento de uma classe comerciante, banqueira, artesã: todas dependentes de recursos. O comerciante depende de mercadoria, o banco depende do fluxo econômico para poder dar crédito, logo depende de que hajam recursos, e o artesão depende de matéria-prima para produzir. Todos precisam de seus recursos, todos precisam de ativos, de onde retirarão lucro: todos os ativos têm sua origem na natureza, pois os recursos naturais possibilitam o desenvolvimente de qualquer coisa que se pode oferecer para troca: os homens dependem da natureza, dos recursos que ela oferece, para que se possam utilizá-los, transformá-los, revendê-los, lucrar com eles, conseguir garantir-se. A cidade, como um banco se monta nos recursos dos seus clientes para criar mais recursos, se garante graças à natureza, ao rural, aos recursos que ela oferece - e aí os manufaturamos pós-fordistamente.. O pensamento modernista, urbanóide, de que a vida pode muito bem não ser pautada em uma moralidade rural, ou desprendida da ordem de determinadas leis naturais, me parece incoerente, e até inocente, em dois aspectos. Primeiramente, em razão da causalidade, de que somos fruto dessa realidade, e qualquer caminho que tomemos terá como causa a natureza, o mundo rural - assim como somos consequência dos gregos e do cristianismo, e tal e coisa. Segundo, porque a lógica da cidade ainda se baseia - e não vejo como não se basear - na condição dos recursos, mesmo que não enxerguemos isso muito bem dos nossos apartamentos, nem na televisão, não há nada no mundo que não venha da natureza, mesmo que indiretamente - ou terceirizadamente. O homem, portanto, em sua condição de ser pertencente e dependente da natureza, tanto para respirar quanto para dirigir um carro, sempre será de algum modo relacionado a algo natural, árcade, como o romantismo mesmo valoriza a seu modo a natureza, como o movimento hippie valorizou o paganismo, como os iluministas evocam direitos naturais, como os existencialistas problematizam a condição viver. Talvez tudo isso se deva ao fato de sermos animais, hominídios, primatas, e essa condição nos depara e nos encastela no único modo possível de viver: operar com o mundo, relacionar-se com ele, porque tudo, tudo tem origem na natureza - inclusive o nosso shape.

Indo além: eu diria que as aspirações árcades que emergem da conscientização, ou da sensação de conscientização, têm muito a ver com uma questão de mentalidade filosófica. As origens genealógicas das coisas são destrinchadas pelo pensamento científico, de busca das causas últimos, dos princípios. As origens de todas as coisas estão, teoricamente, na natureza e em seus recursos. A mentalidade histórica é um reflexo dessa condição moral científica, e a consciência dos fatos inevitavelmente estaria relacionado ao descobrimento de suas origens. O próprio pensamento marxista, que busca negar a alienação, investe na história e na ciência como instrumentos de conscientização, de aprimoramento do homem. E os valores marxistas estão arraigados de valores defendidos pela moral medieval, rural, de igualdade e de pertencimento a tudo - o homem consciente é aquele quer percebe a interdependência de todos os fatos, de todas as coisas, e assim se apercebe igual, proletários do mundo inteiro, uni-vos, através do pensamento científico e da análise histórica. Portanto, poderia-se dizer que essa condicionante da aspiração árcade tem como fundamento - de acordo com meu pensamento científico de chafurdar as causas - a moral e a mentalidade que o ocidente acumulou, e quais fatores foram valorizados. A Condição Macaca, portanto, por mais verdadeira que seja em seus métodos científicos darwinistas, é uma construção da evolução do pensamento científico-filosófico. E é verdadeira pela ótica de que tornamos publicamente concensual essa lógica de mundo, causal. Difícil, ou talvez impossível, é se libertar desse acúmulo e conseguir enxergar mentira no que já parece construído, pois a forma de pensamento que critica e busca as causas mais últimas, ainda está cristalizada nessa lógica científica, passadista, causal. A cidade, como consequência da ruralidade, não se desvincula da base do mundo, a natureza, assim como a dialética e a genealogia, ambas de causa e efeito, não se desassemelham. O Romantismo ilustra bem essa realidade, como um reflexo. O passado, a natureza ao fundo, os valores rurais de nobreza, os romances históricos: a moral dos povos descrita como consequência dos fatores naturais e históricos. A ethos de uma nação, a sua natureza, como reflexo de um apercebimento histórico, ambiental e natural - onde se localizavam as nações, quais as suas condicionantes naturais e inexoráveis; e o destino histórico pelo qual determinada nação seguiu - no que se pautaram os nazismos, os fascismos e os ultra-nacionalismos. (Destino Manifesto, Espaço Vital)

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