segunda-feira, 28 de janeiro de 2008

Reflexões insomníacas



É notável e admirável a característica humana de ter consciência sobre qualquer ato que ele faça, mas não necessariamente irá ser capaz de mudar a realidade. E para não ser mal interpretado, ou melhor, para que vocês possam interpretar do meu ponto de vista, me sinto na obrigação de lhes elucidar uma nova conceituação de consciência.
A consciência consiste na capacidade de se ter ciência sobre todo o processo em que se está envolvido. Não garante capacidade totalmente autônoma de agir. E sim de sentir. De saber que está sentindo, de perceber que está percebendo, de saber porquê está acontecendo determinada coisa. E como ela teria surgido? Surgiu como uma adaptação evolutiva. O ser que possuía a consciência se tornou mais adaptado ao meio que outros animais que não contavam – ainda não contam – com ela. A consciência surgiu em uma situação limítrofe. De sobrevivência, de necessidades extremas. Portanto, quando estamos em necessidades extremas, nossa consciência alcança o seu poder máximo. Talvez a única situação em que ela seja realmente capaz de mudar alguma coisa. E realmente foi. Salvou a espécie humana da extinção, ou melhor, criou a espécie humana. Quando em situações banais, sem necessidades emergenciais, a consciência “enferruja”. Não atinge mais a sua capacidade máxima.
E o que seria viver uma situação limítrofe? Seria possível vive-la na sociedade de hoje? Uma situação limítrofe pode ser encarada como qualquer situação em que você sente extrema falta de alguma coisa que só acaba percebendo o quanto necessitava daquilo quando o perdeu. Começa então um processo de utilização da consciência. Ela passa a perceber todas as nuances de tudo, de maneira real. E percebe tanto isso que muda alguma coisa para poder cegar-se por mais tempo. Para ter certeza de que vai estar seguro e que não precisará utilizar um sentido seu para sair de uma enrascada. Brigas com namorados, festas chatas, problemas com amigos, tudo situações limítrofes, numa sociedade onde a selva é de concreto.
Portanto, o homem só é capaz de ter uma ciência maior, mais completa, imparcial, como que de um espectro observando tudo. E agir cabe ao excesso do exercício da consciência a capacidade de ação. Qualquer ato é feito conscientemente, os limítrofes muito mais, os banais sim, pois são frutos de uma conquista, de um objetivo: não ter mais necessidades.

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