sexta-feira, 24 de outubro de 2008

Vestibular

Muitas pessoas reunidas, semblantes diferenciados, o mesmo propósito os fazia estar lá. Eu foco em uma pessoa, que não tem foco. Eu foco nessa pessoa que argumenta ferozmente sua vaguinha no topo da pirâmide social, nessa pessoa diminuída pela posição que assume nessa estrutura: naturalmente inferiorizada. Mas há o que sustente suas argumentações, sua insistência: papéis, papéis, contratos, termos, leis, livros, palavras, palavras, todos esses atestando a relatividade de tudo, e, por isso, a tal pessoa argumenta, persiste, esperançosa. Eles confirmam uma possibilidade, AS possibilidades, múltiplas, de realizar suas vontades, tão abafadas pelo que o seu superego lhe vive atestando, pelo que a material e histórica luta de classes lhe sinalizou a vida toda. A contratualização das relações humanas, sociais, de trabalho, a super-estrutura; a justiça escrita para que não haja submissão inquestionável, a palavra, a norma, as teorias e artes sobrepondo-se à voz moral implícita que os antigos fortes, os nobres, exerciam lá pela Idade Média. Sempre haverá a burguesia - essa pessoa é um burguês, pequeno, mas burguês -, como uma classe, que estará lá no alto, graças às leis, à propriedade, mas, também, os burgueses, os indivíduos burgueses, os pequenos burgueses, classe-média, que precisam esforçar-se para tornar-se o topo do topo, que para isso buscam conhecer as leis, as palavras, os livros, a história, apenas argumentam, galgam mérito, mérito retórico, politiqueiro, equacionado sobre as normas, que instrumentará a vitória do burguês fraco sobre a estrutura social estanque e injusta. É nas leis que ele se pauta, somente com leis se transforma num grande burguês e de lá não sai se soubé-las bem, tão bem quanto soube pra subir. Mil milhas e milhões de pessoas para baixo é o que essa pessoa espera ver do vértice superior dessa pirâmide. Sem o foco natural, ou de berço, é nos argumentos, nas palavras, que vislumbra o pódio, de onde nunca mais pretende descer.

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