quarta-feira, 15 de julho de 2009

na surdina

Eu estava voltando de táxi de uma noite dessas aí e passei pela Lagoa na maior chuva... Experimente observar isso vindo do Rebouças em direção a Copacabana pela Epitácio Pessoa numa madrugada, rua vazia, de temporal. O jóquei estava todo iluminado e eu via a cidade preenchida pela chuva, pelo cinza meio roxo da chuva, os prédios erguidos, algumas de suas luzes acesas, os postes inabaláveis, e a chuva caindo escondendo ipanema, o dois irmãos, o cristo, o leblon... Era como se o espaço estivesse mais denso e não se pudesse ver além, como se pode num dia de sol; a cidade estava com mais cara de cidade. Eu via isso com meus próprios olhos e uma sensação incrível se apoderou de mim, como se eu não pudesse escrever aquilo, não seria o formato exato da expressão. Não sabia ao certo o que aquilo causava em mim, só uma sensação incrível, nova, com sua estética, plástica a seu modo, num novo formato de apresentação que não correspondia a imagens, nem eu devia reduzi-la a uma delas. Eu não conseguia nem vislumbrava meio nenhum pelo qual eu pudesse expressar aquilo, que parecia tão longe das palavras, das imagens, da arte, tão oco delas, tão oco se tornado elas; e aquilo tudo era tão diferente, asfixiante mesmo pra mim, pra quem foi feito para transformar em palavras o que vê; eu não podia, não podia escrever, nem pintar, nem fotografar, porque eu só via a chuva cair roxa cinza sobre a Lagoa Rodrigo de Freitas e seus arredores, era só isso, e era o que mesmo? Era e não era só isso. Mas era preciso marcar aquilo de alguma forma, porque era novo, porque aquilo eu quis categorizar como belo, porque não poderia ficar pra trás, perdido na memória falha, porque o calar da madrugada parecia querer deixar aquele momento na surdina, talvez porque as mãos humanas fossem muito pouco... mesmo na madrugada, na chuva, na surdina, eu vi e não resisti. Eu sinto muito e espero perdão, como um poeta sempre se esforça em fazer...

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