terça-feira, 14 de julho de 2009

cuidado com poetas - ratificando

Como eu bem disse uma vez, o poeta é mesmo um perigo. É inegável que ele seja uma má influência. O poeta finge que não vê certas situações que ele cria com seus olhares tortos, dissimula-se, age diferentemente do que escreve; age como se nada estivesse fazendo, quando na verdade está criando motivo pra seu texto, veladamente, e só o que se percebe, se não é-se malandro o suficiente para pegá-lo no flagra, é um incômodo, como um mal-estar de uma cólica, uma vontade estranha de ir pra casa. Eu tenho medo de estar sendo demasiado desconfiado dos poetas, mas é bem do seu tipo tornar pequenas situações grandes acontecimentos, meomráveis, trágicos ou homéricos, ou até românticos, cômicos ou pejorativamente realistas. O poeta, nas situações cotidianas, é o desgraçado que sempre olha de um jeito incompreensível, mas que rapidamente foge o olhar por respeito ou medo. O poeta é que cria a viagem toda: a sua áurea traz para o mundo aquilo que não existia antes, ele traz o foco numa só situação, a que vai dramatizar, poetizar. Em vez de viver a vida como todos os normais, o poeta vive catando, escolhendo nas situações aspectos, que transofrmará em texto - transformará em texto tudo aquilo que passou pelos outros como uma faísca, mas que o poeta pega a cauda do fogo e observa o corpo e seu movimento. O poeta, para poder ter o que falar, é capaz de ter um olhar tanto microscópico como telescópico. Ele desvia pra sua percepção de mundo a realidade. A presença do poeta, assim como aquilo que reporta, reverbera energia do mais puro irreal, é o mais puro drama, é a mais pura poesia; que ele finge não estar vendo na hora que vê e que todos veem que ele criou - ele finge o tempo todo! É preciso sempre levar isso em conta ao se admirar uma obra poética e ao se conviver com um poeta: ele pode tragar-te para seu mundo fantástico e abstraído - e por que não abstrato? A vontade metafísica do poeta, de ficar falando de aspectos em si mesmos, já que é impossível que a linguagem abranja a totalidade, nos transmite, com a maior cara de pau, nada mais que uma falsidade, uma mentira, mal contada, que, se averiguada, pode ser rebatida com outra; e aí se prova a mentira de todos os lados do poliedro. A metafísica morreu porque o homem matou Deus. O homem macaco, nós, e a necessidade de não cairmos mais na lorota dos plasticismos da poesia, seja dramática, romântica, homêrica, cômica, realista, construtivista... A poesia deve ser vista apenas como a vontade do poeta, falsa, sempre com vontade de poder, de afirmar sua autoridade, sua verdade; deve ser encarada, como em tempos de democracia, como um interesse. E como numa bela democracia, quanto mais plástico, quanto melhor a aparência e a propaganda, melhor a poesia, mais convincente é - e é por isso que modelos existem... A poesia é uma malícia do indivíduo, é uma maldade do poeta, um obcecado por olhares que confirmem as suas vontades como algo comum, o poeta moraliza, sim, e por isso o poeta nunca atinge a todos: há os que não são tão otários, tão iludidos, tão mal-amados, tão fracos-e-oprimidos, que sabem perfeitamente do que ele é capaz e sabem se defender e sabem também que a vida não pode ser só estética e poesia... Não, a vida é muito mais que uma sensação de cena de filme. Cuidado com eles...

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