domingo, 1 de março de 2009

Beleza: idealismo e materialidade

O meu interesse, inevitavelmente, sempre se volta para o belo. Perante isso, percebi que não é algo somente inerente a mim, mas é algo que se vê como objetivo máximo, talvez, da nossa sociedade: a procura pelo belo e a exaltação da beleza. Diferente de muitas sociedades no mundo, a nossa sociedade, ocidental, é regida por regulamentos laicos. Tanto na antiguidade como depois, com o renascimento, sempre que o ocidente se torna laico, é porque a materialidade superou o muitas-vezes-classificado-como-divino. E há expressão de idealismo pautada em materialidade maior do que a beleza? Não consigo enxergar. Outras sociedades, avessas ao cientificismo ocidental, o tal que nos encaminhou para o materialismo racionalista, não encontram no belo a sua idealização suprema, procuram no sagrado. Acredito que o que há de diferencial no ocidente é a noção aristotélica. Cerceamos o platonismo do ideal ao campo da materialidade, e a arte talvez seja o maior símbolo dessa secção da nossa ethos. As ideologias das ciências sociais, como o marxismo, o positivismo, todos os iluministas também, que visavam o máximo possível dentro da materialidade, e viam o objetivo como totalmente plausível. E daonde teria vindo essa plausibilidade do paraíso na terra? Platão veio antes de Aristóteles, a mitologia surgiu antes da ciência, Jesus Cristo já nos tinha elucubrado o paraíso para as almas de boas atitudes: o ideal sagrado é uma reação de negação aos obstáculos inerentes à vida ainda não mapeados, é a visualização do fim, finalmentegraçasadeus, do desgaste; o materialismo (aristotélico) é a determinação dos focos dos problemas - uma censura crítica; o ideal materialista, o belo, é mais uma tréplica à réplica do aristotelismo ao platonismo - a busca do sonho, talvez. Nessa entra o belo, o ideal dentro do real, o que mais suscita interesse, o que mais desperta prazer, o que mais nos impulsiona contra as dificuldades, o que mais nos aproxima da manifestação da vida - o que é bom: sobrevivência, auto-preservação. Portanto o belo é o bom possível, o sagrado é o bom platônico - nietzscheanamente decadente.

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