segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Complexo de Torre de Babel: a educação formal

Começou lá na Paidéia ou eu estou enganado? Porque, é claro, sempre se pode relativizar levando em conta os valores vinculados a um ideal de formação de homem. Mas eu procuro desvendar o que há de mais autoritário na eduação: a massificação de símbolos referenciais universalizantes. Se pegarmos a chave da proposta que tomo a liberdade de chamar de nietzscheana, que preza pelo indivíduo, por suas nuances livres de qualquer moral autárquica, a educação formal é a original responsável por essa nossa histórica-e-progressiva acachapante sensação-cubículo. Não há liberdade criativa que se sustente e seja capaz de criar comunicação sobre o mais particular, sobre os arredores de cada indivíduo: porque as correlações conceituais sempre se prendem aos símbolos ensinados, que na educação formal são sempre pretensamente universais de um país, de um povo, de um ideal. (Construtivismo?). Da educação vem essa maldita mania que temos de não enxergarmos, o óbvio, o necessário, o tocante a nós, o um-palmo-à-frente, porque há símbolos que é preciso criar e, não, os símbolos propagados, de cima pra baixo, não vão servir para nos aquietar o espírito; mas tudo deve se encaixar nos símbolos massificados, genéricos, não pudemos criar: nos disseram, nos ensinaram, a todos, o mesmo, desde muito tempo, ideal. Ninguém se sente à vontade para sentir o que sente, e é angustiante você não conseguir se dar conta daquilo que te atinge diretamente e se censurar com símbolos memorizados. Esses símbolos nos impregnaram como se tivessem que ser o telos de todos os fenômenos que se pode experimentar, e compreende-los, os sentidos nos símbolos, é um esforço a poucos se sujeitam, porque muitos se abstêm, é como ter que tecer e tecer e tecer sentidos para uma tradição. O que a educação faz é concretizar uma intenção política moralizadora, conservadora de um ideal passadista, coerção, imposição ética, e aí ficamos presos, culpados, se o que vivemos não tem nenhuma relação com o que se sabe dizer. O que mais tem é esquizofrênico que cria neologismo pra dissertar sobre sua descoberta da verdade. Temo que seja a ruína da torre de babel, e que o probelma todo não foi da arquitetura da torre: os homens na torre falavam, aparentemente, a mesma língua, a mesma coisa sempre, sobre deus, mas como seus interesses e suas individualidades não encontravam meios de expressão mais acuradamente correlatos, começaram a entender, por olhar no fundo dos olhos, que os homens nunca são os mesmos, nem suas ideias de verdade. Aí, consequentemente, os grupos foram se dividindo, times, de afinidade, de interesse comum, de individualidade compatível, grupos que eram-se, uns com os outros, de tal maneira hostis que não conseguiam mais conviver sob a mesma torre, sob uma mesma perseguição de ideal. Somente então perceberam que deus, a sua plenitude, não podia estar naquela torre, sob aquela terrível e intensa sensação de ir cada vez mais pra cima mas estar cada vez mais longe de deus - sentiam ódio e desconforto. Aos poucos, foram descendo os grupos da torre, e em pouquíssimo tempo a torre já estava praticamente vazia. Não saíram em busca de deus, saíram cansados de não o encontrarem, e decidiram fugir da grande aglomeração de homens famigerados: todos queriam indicar o caminho certo e guiar, pois todo homem queria ser o primeiro a passar pelo portão do paraíso. Ninguém aguentava mais a torre, a Terra. Ela ruiu com o tempo, não havia mais quem a consertasse há tempos, já que ninguém se entendia e, assim, não se chegava ao consenso sobre a reforma, como numa reunião de condomínio: não havia confiança unânime em ninguém que fosse consertar, houve até períodos de tirania, que só reforçaram a ideia da fuga, da sabotagem. A diáspora era inevitável, era necessário para acalmar-se; e, se deus existisse, ele que fosse procurar seu rebanho, porque assim, forçando a barra, ele parecia reagir como um affair mal-resolvido - ligava-se, ligava-se, ligava-se e deus nunca atendia. Os grupos se espraiaram. Grupos reduzidos, de afinidades aproximadas, e as correlações simbólicas pareciam fluir e o entendimento se fazia perfeito. Lembravam-se de como deus, da torre, parecia estar sendo disputado, era de quem chegasse primeiro, era um ídolo, um referencial intocável, uma necessidade de que se falasse em seu nome para que concordassem da sua existência, mas ninguém lhe alcançava a essência. Desbancavam-se uns aos outros, porque deus era "da forma que mais me interessasse" e ainda assim era deus, o símbolo. Depois da diáspora deus era mais presente do que nunca, as percepções que os homens reportavam eram como se tivessem ouvido as palavras de deus, diretamente, e não eram meras especulações furáveis, e furadas. Todos se entendiam, o arredor dos indivíduos podia ser encarado frente a frente, sabiam o que causava-lhes o que, e as vontades e verdades pareciam mais pungentes do que nunca - davam-se nomes certos. Na torre, todos os símbolos que aprendiam a usar, para que se expressasem, não davam em nada e tudo parecia sem sentido, todos pareciam longe de deus; educação massificada para que o projeto continuasse e ninguém mais estava confortável, sofriam e nem sabiam por que.

Deus está no particular.

Deus está no particular, e nessa torre de babel eu busco, pelas vielas e escadas e andares, os apartamentos de quem eu tenho empatia, até ela ruir.

Paidéia é uma má ideia.

Deus no particular e não há afobação para tocar os pés do ídolo.

Deus é plenitude e não esforço por plenitude.

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