quarta-feira, 27 de maio de 2009

uma família carioca ou uma conversa neo-neo-realista

Numa conversa na casa de alguém surge o assunto "a família de outro alguém". Ah, ele tem muito dinheiro. Não, não tem! Vive bem... Não pode ser rico, o pai é militar; tem um dinheiro tranquilo. Até porque é uma família grande, são quatro irmãos, então, por mais que o pai ganhasse muito, que de fato deve ganhar, não dá, é muito gasto, são quatro filhos, uma ex-mulher e uma nova mulher; é, ele casou de novo e teve outro filho, o quarto. Sem contar que, pra um militar economizar a ponto de ficar rico, ele teria que ser a pessoa mais zura da face da terra, ainda mais tendo quatro filhos e uma ex-mulher. E pelo que eu sei, ele gosta de levar sempre a família toda pra viajar, gosta de tirar onda de patriarca. Isso gasta muito! Não dá pra juntar fortuna ganhando salário fixo com essa vida. E pô, coitado do cara, tinha um apartamento na Lagoa e separou da mulher, que ficou com a vista pro Cristo e pro Dois Irmãos. Imagina isso? Você, na sua vida, pode acabar casando, tendo 3 filhos com uma mulher; aí depois você se separa, ela fica com seu apartamento, você tem que pagar pensão pra ela e pros filhos e ainda tem que se resolver sozinho. Ele acabou indo morar na Tijuca, que não está tão mal assim, casou de novo e quis ter outro filho. Ah, cara, pelo visto ele que quis tudo isso, ninguém casa do nada, ninguém tem três filhos com a mulher que casou do nada: um filho, por engano, motivo do casamento, até pode ser, mas o resto ele quis fazer. Separar, provavelmente ele também quis, ou teve culpa no cartório. Mas pô, pros filhos tá ótimo, têm dois apartamentos. Mas uma coisa é: deve ser uma merda ter que se mudar da Lagoa pra Tijuca e ter que se contentar em idealizar uma nova vida em nova família sem vista espetacular, e lá, na sua vista, 4 quartos, está a sua ex-mulher, que não casou com ninguém, fica lá cuidando dos seus outros 3 filhos, sem nenhuma aparente felicidade estampada no rosto nem planos para o amanhã, fumando cigarros e esperando mais um dia de trabalho mal remunerado pra computar no tempo de serviço da aposentadoria, bancado por você.

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