sexta-feira, 1 de maio de 2009

a vocação da arte para a abstração e para a existência

Tento afastar da minha mente a ideia de que a consciência sobre a condição humana signifique ter total responsabilidade sobre os atos, total entendimento sobre eles. A filosofia existencialista se propõe a isso, basicamente. Contudo, se não for dessa tal forma, eu, talvez inocente, não consigo figurar perfeitamente a ideia: existencialismo como postura filosófica. O Existencialismo me parece, ainda, incapaz de aprofundar-se da maneira como gostaria na existência e na consciência. E acredito que isso esteja relacionado a uma aprisionamento linguístico. Não sei por que exatamente, pois não me sinto capaz de compreender todos os motivos para isso, justamente por essa questão da linguagem, que sempre será falha para mim. Isso aqui é apenas uma hipótese, como todas as verdades lançadas, mesmo as mais fundamentadas. A nossa linguagem preciosista, tal qual é, maniqueísta, não é capaz de descrever ou de alcançar em certeza a nossa existência, pois o maniqueísmo se propõe, como a justiça, ao certo - ou será que essa incapacidade se refere a qualquer linguagem, de qualquer ethos? A porposta existencialista, de consciência sobre a condição humana, enquanto filosofia, é intangível. Albert Camus, na mesma porposta que outros que se propuseram ao existencislismo de forma artística, pode ser o mais fiel do movimento. Sua postua inquieta, com um tom estrangeiro, sensivelmente pessimista, com sua metalinguagem do inexprimível, transmitia essa frustração do existencialismo. Por isso, prefiro me colocar próximo ao surrealismo e ao dadaísmo - mais ao que representam do que aos seus títulos. O surrealismo e o dadaísmo negam a ideia de tempo, espaço e categoria da nossa linguagem maniqueísta. Não me sai da mente o quadro do relógio derretido de Dali: nenhum respeito aos pensamentos usuais. Mas agora estendo também minha simpatia baseada em hipóteses ao neo-concretismo - ou ao mínimo que sei sobre ele: através de sua forma concreta, simples, o neo-concretismo tenta aludir ao máximo de reflexões e sentidos. A metalinguagem infinita da sua geometricidade abrange muitos sentidos e os amplia; é possível sentir isso. É uma arte, através de uma simples indução, dedutiva, que permite com simplicidade, com formas mais universalistas, fazer referência a um campo imenso de aferições. Portanto, o existencialismo se apresenta a mim agora como uma atitude anti-filosófica, ou pelo menos anti-a-filosofia-que-se-vinha-propondo; mas ainda não alcança o objetivo, pela barreira da linguagem maniqueísta, científica, aristotélica, preciosista. O existencialismo francês, talvez, por relacionar-se mais com a arte na literaturam se exprima melhor - mesmo frustrado. As artes mais contemporâneas têm o poder da abstração pura, da conceitualidade livre de definições. A filosofia, mesmo com outra proposta, ainda se mostra muito arraigada a métodos, a definições, a questionamentos expressos concretamente, à busca de inteligibilidade - há nela uma ética científica. As artes a que me referi principalmente, o neo-concretismo, o surrealismo e o dadaísmo, se me afiguram mais sinceras, mais realizadoras, menos frustrantes que a atitude filosófica somente, que a ideia de ciência intrínseca à consciência filosófica, a inevitabilidade da causalidade, ou na genalogia, ou na dialética, ou no cumulativismo. A filosofia, se ainda pretende se manter viva, respirando, deve deve deixar sua presunção e sustentar-se principalmente nas artes, mais precisamente nas abstratas. Deve reconhecer-se como instrumento mais inútil que a arte, como um mero prazer apolíneo sobre as conceituações aludidas com a arte, que lida desde sempre com dilemas existênciais de forma mais sensitiva, assim dedutiva. A ideia do homem consciente e responsável das influências marxistas, científicas, é que derrubam o existencialismo. A linguagem científica encontra-se na crise quântica, por ser muito restrita. A beleza da arte é que ela não se propõe utilidade, ela se propõe trasmissão. Portanto, se a função da arte de estimular a sensibilidade já é de certa forma questionável em sua utilidade, a da filosofia, por ser linguísticamente maniqueísta e imprecisa, é mais inútil, despropositada e infiel ainda: ela é pretenciosa, hipócrita, frustrante. A filosofia contemporânea deve aspirar desvirtuar-se do seu papel objetivo, explicativo, representado pela lógica científica; a filosofia deve partir para outro caminho, para o caminho da comunicação. A atitude filosófica deve limitar-se a descrever, a comentar a abstração, a transmitir para compartilhar, e não expandir sua funcionalidade ao rumo à verdade e à totalidade. Pautada na arte, ela deve se reservar a fazer entender as abstrações, e não a conferir-lhes propósitos últimos nem causas primeiras.

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