domingo, 11 de novembro de 2007

Só Merda

Falar merda, graças a Deus, é um dom restrito a poucos. É um dom pois permite a quem fala - a merda - discursar ininterruptamente sobre qualquer assunto e ele, por mais que importantissimo, passara a ser uma merda qualquer que se esteja falando. Você, que fala merda, pode tratar qualquer seriedade, qualquer preocupação ou ocupação como a-mais-digna-de-gargalhadas-compulsivas merda.

Mas aquele que traz a merda para o assunto se diferencia daquele que torna merda o assunto, embora muitas vezes seja a mesma pessoa que o faz. É tudo uma questão de know-how. Basta esperar o momento propício, aquele em que o assunto está se tornando sério, que apenas alguns conseguem acompanhar. É aí que entra o Senhor da Merda. Ridiculariza o assunto, dando a entonação necessaria, avacalhando qualquer vestigio de chatice. Falar merda é tirar do sério. Tirar o assunto do sério, daquele peso de avaliar importâncias. Tirar do sério aquele que falava, que ficará extremamente irritado, proporcionando, assim, mais observações merdáceas sobre a falta de fair-play do indivíduo metido a sério.

Se o assunto não há, a merda vem de fora. Em geral. Vem a merda sobre o garçom, sobre a velha do lado, sobre os hábitos alimentares do gordo da frente, sobre o jeito inaceitavelmente engraçado da bicha-louca sentada naquela mesa, sobre a dança exótica que as quarentonas cismam em continuar fazendo, mesmo sabendo que são quarentonas.

Enfim, minha gente, a merda está no meio de nós. E se me dizem: "Pare de tocar na merda: quanto mais o faz, mais ela fede". Acho que esse que me fala uma barbaridade dessas não sabe o que diz, senão uma grande seriedade chata. Mexamos, e cada vez mais, nas merdas que jazem neste mundo. Se elas fedem, lembramos do fedor que elas exalam. E fedores, assim como qualquer coisa inusitada, nos prende a atenção, e reparamos nas excentricidades do fedor. E tudo o que é excêntrico, é fora do padrão: torna-se ridículo. E assim rimos de alguma coisa. É genial quem consegue jogar a merda de tudo no ventilador.

Mas pera lá! Se todos mexerem nas merdas do mundo, ou seja, se todos forem capazes de trazer à tona a merda que existe infiltrada na essência de tudo, a merda tornar-se-á o padrão. A merda não será mais o excêntrico, logo não mais o ridículo!
A natureza, entretanto, é sábia: são poucos os que sabem tornar merda, para, assim, ela continua propícia.

2 comentários:

Unknown disse...

O dom de falar merda todos os dias é daqueles que vem em todos os dias alguma merda... e que é a mesma merda todos os dias. heuaheua po essa parada da merda é uma parada irada pras nossas discussoes filosoficas...

Unknown disse...

huan maluco