quinta-feira, 29 de janeiro de 2009
reflexão sobre a pós-modernidade
quarta-feira, 28 de janeiro de 2009
começando a desconstruir Marx - introduzindo o Cumulativismo
(Mas e a classe média nisso tudo? Um pequeno acúmulo que cresce sempre mais, a classe média não tem noção de exploração, pois se vê útil em seu consumo, sua forma de manifestar poder, de se sentir complementar à sociedade. Inferior, mas reconhecida - quem pagaria os impostos e compraria os bens produzidos, quem? Não seria o exército de mão-de-obra, ah não...)
segunda-feira, 26 de janeiro de 2009
sobre pessoas queridas e ruidosas
posto que o que dizes já foi falado,
me calo, atenta ao que tu gritas
estando enfim, calado
Sete Epitáfios para uma Dama Branca (Que, descalça, media 1,65m e, nua, pesava 54 quilos)
Nunca conversamos sobre religião, não sei se ela acreditava em Deus. Em reencarnação ou em horóscopo. Não sei se ela gostava de gatos ou se pensou em colecionar selos. Nunca perguntei se ela se interessava por política, futebol ou mesmo se tinha o costume de se masturbar.
O nome de seus pais, o que ela achava de homens com barba, das loiras, de armas e de tatuagens - são coisas que eu nunca vou saber. Não descobri se em alguma ocasião ela passou fome na vida. Se teve uma tia epilética...
Será que, como eu, ela achava que a felicidade é um negócio que inventaram pra enganar os pobres, feios, e os desesperançosos? Nem sei se ela teve um primo que vivia pedindo dinheiro emprestado. Não sei se tomou drogas um dia ou se era bamba em matemática no tempo da escola. Se gostava de resolver as palavras-cruzadas do jornal. Será que sabia jogar truco? Teve todas as doenças da infância? Se em algum momento humilhou alguém e se arrependeu depois. Se gostava de brócolis. Se alguma vez perdeu o sono por causa de dívidas. Se pensou em fugir. Se lembrava dos sonhos depois que acordava; Se sonhava...
Eu nunca soube o que essa mulher achava do novo papa. E de velhas que ainda usam laquê.
Compreendeu o significado da palavra "sacrifício" a tempo? Será que ela se orgulhou de algo de que deveria se envergonhar? Será que se lembra da primeira vez que viu o mar? Do primeiro beijo? Será que ela se sentiu digna em alguma oportunidade? e suja? Eu nunca soube o que ela achava do salário-mínimo. Da ioga. Das surubas. E das coisas que assustam quando pensamos nelas. De gente que tem medo de escuro. E de quem sabe que temos escuros dentro da gente. Eu não soube nada disso.
No entanto, sabia sua altura. Porque ela precisava ficar na ponta dos pés toda vez que nos beijávamos.
E sabia seu peso: ela me falou um dia, na cama, quando quis ficar por cima."
Livremente adaptado do Epitácio V., escrito por Marçal Aquino
Fonte: O Amor e Outros Objetos Pontiagudos.
domingo, 25 de janeiro de 2009
A gente quer comida, diversão e arte
como é preciso o contato
massa em contato com massa.
Se está com fome,
comer é bom enquanto se sente a comida na boca
depois é tédio.
Pra fuder, o mesmo.
Com a arte, o mesmo,
com o dinheiro, também -
quem teria dinheiro para simplesmente ter dinheiro
e não para comprar e comprar?
Por isso,
depois da comida
depois do sexo
depois das compras
se precisa preencher
com mais sexo
ou mais comprar
ou mais comida
e me vêm as drogas.
Vegetais é que são felizes...
Autotróficos...
abstinência ou fissura?
ps: multishow de madrugada no mute pode ser muito engraçado, mesmo não estando chapado. Estando, poderia ser mais atrativo que qualquer interação social supervalorizada e muito bem-estimada.
sexta-feira, 23 de janeiro de 2009
quarta-feira, 21 de janeiro de 2009
DE REPENTE ACABOU - multidão de (incon)formados pára Botafogo e Humaitá
De repente acabou. "Foi sem mais nem menos, eu não queria que acabasse assim, de uma hora pra outra", disse uma aluna da 301. "O clima era de desespero entre os alunos", foi o que relatou um inspetor. “As outras séries não conseguiram continuar as aulas, as cadeiras eram arremessadas pelas janelas, as criancinhas do outro prédio gritavam enlouquecidas, parecia que sofriam do mesmo. Eu achei que era o fim do mundo,” reportou desnorteada uma inspetora do outro prédio que foi pisoteada ao tentar conter os pequenininhos. “Era pior que americano entrando na liquidação do natal”, comentou alusivo um professor de geografia. "Me disseram que viram uma garota correndo pra dentro da sala dos professores, subindo na mesa e ameaçando cortar os pulsos", talvez tenha exagerado um aluno do 1o ano. Exasperada, Danielle Gilaberte, da 301, bufava pelos corredores “Vocês podem sentir o terror? Eu posso sentir o terror!”
Se a tragédia já era muita, os alunos de um colégio da Zona Sul do Rio de Janeiro tornaram-na pior. Movidos por ímpetos desvairados, os alunos 3o ano de 2008 do Colégio Andrews manifestaram-se esta tarde contra as decisões ditas arbitrárias do colégio ao determinar que eles agora estão formados. "Se eles tivessem nos preparado para isso, disse Marina Gorayeb, até vá lá, mas foi justamente o contrário, logo no 3o ano, o último, eles puseram mais aulas a tarde e nos confrontaram a um inimigo externo comum, o vestibular, sem contar que os melhores professores ficam para o 3o ano, aí, o que aconteceu foi que nós nos tornamos muito próximos, praticamente uma sociedade alternativa utópica. A única coisa que nós queremos é que nos dêem garantias de que não vamos sofrer nenhum tipo de conseqüência negativa, ou traumas em nossas vidas pela solidão que podemos vir a sentir daqui pra frente. Enquanto nada for esclarecido, continuaremos a nos utilizar de práticas sensacionalistas para atração da mídia". E pelo que nos foi confidenciado por um professor que preferiu não se identificar, esse método já havia sido utilizado. "É, eles são meio baderneiros. Ano passado mesmo, pra você ver, sentaram no pátio, nariz de palhaço, apito, eles pararam a escola".
Mas esse ano as demandas eram diferentes. Outra integrante do grupo, essa da comissão de imprensa organizada por eles, Olivia Tranjan, explicou para a nossa equipe de reportagem quais são as diretrizes e os motivos da manifestação. "Esse ano foi diferente do ano passado. Enquanto ano passado nos indignávamos por motivos práticos, prova disso, prova daquilo, horário daqui, horário de lá, nesse ano passamos a nos preocupar com outras coisas. Esse ano nos foi possível perceber o valor da companhia de quem te acompanha todos os dias durante 9 horas, sem contar os sábados de prova, e churrascos e festinhas, por conseqüência, inevitáveis. Esse ano aprendemos a nos aproximar de quem está próximo, aprendemos a superar as provas, os vestibulares, os sussudios beirosos e os pós-beira e sorrir o dia inteiro, ou não, muitas vezes das nossas desgraças, como foi o caso do mural da desgraça, intitulado sabiamente de "Pensando Diferente", onde expúnhamos nossos zeros para quem quisesse passar por ali e rir, ou confortar-se por não estar sozinho. O tempo que ficávamos juntos, o dia inteiro, todos os dias, nos enlouqueceu. Fomos expostos a condições nem-um-pouco-normais de temperatura e pressão, ou na linguagem não-vestibuleira, vivemos um ano atípico e intenso. Intenso pelas brigas pelo ar-condicionado, que tencionavam tanto quanto as discussões pela formatura e adjacências.” Não conseguindo continuar devido às lágrimas, a aluna foi imediatamente afagada pelos amigos e Rafael Pinheiro, companheiro de turma, continuou a declaração. “O que ficou claro para mim foi que, quanto mais passava o tempo, menos acostumados com a vida lá fora ficávamos. Conforme as provas passavam e nós só pensávamos nas próximas provas, sem contato livre desses fatos com a realidade, esquecíamos que isso iria acabar um dia, que não deveríamos talvez ter nos aproximado tanto assim dos professores, de toda a turma, que não teremos mais o convívio cotidiano. Será difícil a separação.”
As coisas não pareciam fáceis no pátio das Magueiras. Isabella Benevides, que integrava o movimento, também deu seu depoimento. “Nós estávamos preocupados com o inimigo externo das provas e dos vestibulares, nossas mentes estavam sempre voltadas pra eles e não enxergávamos um palmo além desse ano. Agora nós temos esse amor incondicional, esse medo do desconhecido, e nós nem sequer havíamos pensado nisso ao longo do ano! O que queremos dessa instituição que nos fez criar esses lindos laços com ela e com seus integrantes é que ela nos dê algum tipo de garantia, nem que seja metafísica, como um aperto de mão seguido de um tudo vai dar certo, mas nós temos que nos sentir seguros para continuar, ou vamos continuar nos utilizando de práticas sensacionalistas para atração da mídia."
E essas práticas foram muitas. Era possível ver alguns deles amarrados às mangueiras do pátio com expressões de desespero e desolação. Houve também um grupo grande deles que fechou a Visconde de Silva, com faixas escritas "Bia, eu te amo", outras com "Eu tenho que aprender circunferência ainda" e bradavam "Bom dia, seu Luiz", repetidas vezes, era o jargão. Outra prática que, corre o boato, também está sendo utilizada é a conta pendurada do almoço. Dizem que a quantia somada é incalculável, o que, especulam analistas políticos, seria uma inteligentíssima manobra para manter vínculos com o Andrews, de forma terceirizada.
Alguns alunos da série foram encarregados de redigir um manifesto. “Nós já estamos acostumados com os trâmites políticos e politiqueiros. O Manifesto explicita melhor do que qualquer coisa o que reivindicamos e o que sentimos”, esclareceu Daniel Murray. Segue aqui um trecho desse manifesto que não se diz político, se diz emocionado:
“O sol ardia do lado de fora da sala (do cubo) onde se encontrava um confinamento de pessoas uniformizadas. Na visão macro poderia-se pensar em ratos de laboratório sendo preparados para algum tipo de teste científico terrível; já a visão micro teria o seu tom de campo de concentração nazista. Às vezes a janela e a porta ficavam abertas, mas era muito: logo seriam estupidamente fechadas e o aparelho que ficava em cima (seria o que jogava o gás no confinamento?) começaria a fazer o irritante barulho, que obrigava todos aqueles que se encontravam de pé na frente, discursando durante todas aquelas manhãs, a gritarem, até perderem voz.
Seriam esses discursantes diários quem mandava ligar os aparelhos de gás? Não, os próprios ratos da sala o faziam, causando, na maior parte das vezes, um alvoroço que resultava em brigas, insultos, unhas e dentes, todos misturados em arranhões e mordidas perversas. Até mesmo simples olhares poderiam simbolizar essa luta disparada, não importa. Quanto ao gás, a sala ficou dividida entre os que o queriam - e suavam - e os que não o queriam - e se agasalhavam -, sendo que, normalmente os discursantes eram contra.
A vida naquela prisão tinha uma rotina "interessante". Tocado o sinal, os presidiários eram arrastados para dentro das grades, onde tinham que escutar o discurso de uma pessoa, que se revezava de hora em hora com outra. No terceiro sinal, era permitida meia hora de banho de sol. Logo após, voltavam para a cela por onde ficavam, com mais duas pausas, até o final da tarde. A prisão mais contraditória: os presidiários eram soltos à noite...
Parece que as experiências deixavam os ratos cada vez mais nervosos, mais gordos e mais brancos. Conforme ia passando o tempo, mais eles espumavam pela boca, tinham seus olhos amarelados e as orelhas machucadas. As mãos, caleijadas. A cabeça doía, não mais pensava, não conseguia mais. Chegava uma hora em que os ratinhos simplesmente paravam e olhavam para fora... quando isso vai acabar? Quando vamos poder respirar novamente que não seja esse gás intoxicante? Quando, quando, quando...
Eles nem perceberam quando chegou o final. Na verdade, nem sentiram direito como o tempo de confinamento passou rápido e que, daqui para frente, eles poderão ter a liberdade tão esperada naquele ano. Talvez nem exista de fato essa liberdade, pode apenas estar no campo das idéias, mas só o campo já é um alívio. Um suspiro profundo. Enchem então seus pulmõezinhos de ar e dizem, ah, acabou enfim.
No entanto, vem uma pontada no coração que a cada suspiro fica mais forte. Será todo o gás acumulado no sangue? Quanto mais pensam, menos raciocinam, e suas visões começam a ficar embaçadas. Cai uma gota no peito. Que dor no peito molhado, que dor de remorso, que dor de saudade... Remorso de ter pensado tão cruelmente da salinha, aquela salinha onde, volta e meia, tinha uma discussãozinha, mas a gente continuava a brincar de pique-parede... Aquela salinha que quando abria a janela vinha a brisa da esperança de tudo dar certo, de que tudo acabe mas que não termine. Conforme as lágrimas vão enchendo os olhos, os ratinhos vão se tornando mais humanos. É o momento que se entende que o confinamento não passou de um esforço necessário, e que as brigas foram apenas um desabafo; os discursantes eram os conselheiros, o banho de sol era o descanso e a cela era a casa.
E como eles se apegaram ao espaço, às pessoas de lá, a tudo que pertencia a esse lugar. Imaginavam-se saindo e passando pela porta qualquer dia desses, com uma lembrança da vista da sala pras mangueiras. Do barulho de qualquer possível pássaro, em geral pombos, que se instalavam sobre os aparelhos emissores de gás, ou de ar-condicionado. As cores daqueles tijolinhos das paredes de fora sempre vão lembrar escola. Nunca mais vão poder olhar pra qualquer árvore sem lembrar das enormes mangueiras do pátio do banho de sol. Todos os restaurantes onde almoçavam os ratinhos, nas redondezas. Como viverão os ratinhos sem aulas de redação com duas professoras, pequenas, mas são duas – até que com salto elas disfarçam bem. Como viverão os ratinhos, meu deus, sem os bilhetinhos que a Bia pendura na Blusa, pra não esquecer de nada – não esquece nunca da gente Bia! A vida deles, longe desse costumeiro encontro com uma professora meio louca, sim ou não gente, que todos os ratinhos amam. Muitos ratinhos não vão mais aprender matemática, mas tentar, ou não, e conseguir, ou não, aprender matemática com os professores que tiveram foi lindo demais. Além da loucura da Mônica, tínhamos a malandragem didática do Pereira, quem dera se os ratinhos conseguissem tão facilmente resolver uma questão de probabilidade. Também contaram com um professor aí chamado marcelo Rodrigues, dizem que ele dá aula bem, mas o que mais fica em evidência é o quão duvidosa pode ser a personalidade dele devido às cores que ele utiliza ao escrever no quadro. É também impossível não beirar a loucura ao se imaginar longe do Xavier, mesmo com seu microfone. Imaginem eles lá, fora do colégio, sem o Cláudio. Sem o Cláudio! Viver longe das calmarias das aulas do Rhenan, longe das indecifráveis cadeias carbônicas, que pelo menos quem dava a matéria era um cara que contava boas piadas. Longe da Ana Maria e das suas conversas looongas. Às quintas feiras, que ratinho não adorava sair de sua aula de química ou física e pensar um pouquinho em inglês com o Francisco e com a Adriana. Às quartas feiras, os ratinhos tinham uns choques de atenção, eram as aula do Márcio que intercalavam risadas, indignações com a vida, especulação e morte nos piores casos. O Faber será outro motivo de revolta de se estar longe, não é aceitável não poder comer pizza da domino’s na terça e ir conversar sobre laranja com gominhos e a sua relação com os subsídios agrícolas nos Estados Unidos. Eu duvido que um dia alguém seja feliz sem ter tido o prazer de ser um ratinho que teve aula com o Marcelo Pinheiro, porque ninguém terá rido de verdade em sua vida, só quem ouviu Umbrella por ele. E muito perdeu o ratinho que não teve aula de história com o Dezemone, oras, ele é a história. Alguns poucos ratinhos filosofavam livremente, nas quintas à tarde, sob custódia do Michell, grande maestro dos surtos de alguns deles.
Os ratinhos, por essas e outras, se viram pertencentes disso e querem fazer parte disso pra sempre. O jornal do Vicente, a anexação da Bolívia, o jeito de sentar do Rafael, os beijos do casal, a gesticulação eletrizante da Danielle, a Marina e seus textos de prova de português, a Olívia que ficava vermelha mais que eventualmente, a cabeça do Fabiano, sempre na frente do quadro, o número 23, que tanto perseguiu os ratinhos, que gritavam “aaaa” amedrontados.
Fica a pergunta no ar: como ficarão os ratinhos depois de tudo isso ter acabado? Eles estão livres, sim, mas por que não disseram que a liberdade era essa selva? Aqui, pelo menos, os ratinhos se sentiam bem, eram bem tratados: ratinhos se apegam às coisas, não se deve fazer isso com eles.”
Mesmo depois de muita confusão, o desfecho pacífico da revolta parece próximo. “A melhor saída, tanto pros alunos quanto pro Colégio, é negociar, e é por esse caminho que eles devem seguir”, opinou ponderado o Presidente Lula. E assim se encaminha para o fim a manifestação: os dois lados, tanto os alunos, quanto o colégio, se mostraram dispostos a negociações. “Nós só queremos que tudo acabe bem para todos”. Declarou um porta-voz da escola. “Nós aceitamos as negociações, só queremos ser felizes” declarou um porta-voz dos alunos. Está marcada uma reunião para o próximo dia 12.
Não dando ponto sem nó, James, servente e filósofo de banheiro incompreendido de sua época, pontuou “Eles não perdem nem os amigos nem a piada”.
virada quase copernicana
Memória de brinde
Vontades marcadas
Decisão tomada
Basta dito
Conflito
Alvo culpado
Destino traçado
acordar tarde
O filho havia convidado dois amigos para dormir em casa. Quer dizer, convidado não, eles foram pra casa dele, que é dela, de noite, e acabaram ficando, coisa que ela só descobriu quando acordou no dia seguinte. Ou melhor, às 5 da madrugada, como costumava fazer. Era uma surpresa. Ninguém conseguia saber se podia ser agradável ou desagradável visita, dona Maria nunca sabia se gostava ou não dos amigos desse filho, eles se trancavam no quarto, fumavam, sei lá, coisas que até sua galera fazia nos seus tempos de jovem, tempos que ela de certa forma abominava: tudo o que ela sonhava desde cedo, mesmo quando não sabia o que sonhava para sua vida, era uma casa, com filhos e sossego. Mas ela sabia que aquilo era normal, embora, sei lá, não lhe trouxesse paz aquilo. E tudo por água abaixo por causa do filho mais novo, logo no mais novo, podia ter sido no mais velho pra eu já ter me acostumado...
Pois é, e os jovens, que a seus olhares pareciam uns aproveitadores do seu lar - ela nem sequer pensou que eles tinham sim família, casa, comida e roupa lavada, só estavam de férias e estava caindo um dilúvio na cidade, Voluntários inundada - não acordavam. 6 horas da tarde. Não havia nada pra jovens fazerem com chuva - ou seria só mais um dia que seu filho dormia que nem um porco sem perspectivas? Ela tinha uma reunião de trabalho em casa, para resolver pendências e... e como seria com um bando de jovens que dormiam descontroladamente, possivelmente fumavam maconha no quarto e circulavam do banheiro pro quarto livremente?
Ela, que sempre tentou pagar de mãe legal boazinha respeitosa moral e ética, já sabedoura do mundo das drogas e da porra-louquice e por isso compreensiva e descoladinha, embora bem sucedida e caretinha no ponto certo, não aguentou. Entrou no quarto, cutucou o filho raivosa, propositalmente para acordá-lo de supetão, chamou-o para conversar e urrou sussurando, para não ouvirem, mas ouviram:
- Chega! Como é que é? Eles não vão pra casa não? Vão ficar aí o dia inteiro dormindo?
- Eu hein mãe, que que tá acontecendo? A gente tá de férias, tá chuvendo pra caralho e não tem nada pra fazer! Parece maluca.
E ficou assim. A mãe tinha se aproveitado de uma sensação de culpa que ela sabia que o filho conservava em si mesmo, por causa das noites acordado e dos dias dormindo, por causa das merdas que já havia feito, por causa dos foras que já tinha dado nela, por causa da vida que ele levava que não condizia com alguma vida que deveria ser a dele. Sentiu vergonha do filho que tinha, que só dorme, não faz nada e tem uns amigos esquisitos que, com 20 anos na cara, dormiram na casa do amigo. Tudo muito estranho, tudo era sempre muito estranho para Dona Maria, que sempre vasculhava as coisas. Sempre acordava de madrugada para saber o que acontecia - nada - sempre abria a porta do banheiro aceso, sempre queria saber, ficava imaginando quando não perguntava e, às vezes, sua imaginação fértil, pautada em dados objetivos, lhe dava uma certeza de surto maníaco, como essa.
Mas, no final das contas, o esporrinho foi o gatilho para que eles fossem embora e a vida tranquila familiar classe-média em desenvolvimento atéia pudesse correr com suas respectivas vontades, rotinas, neuroses coisas já bem afloradas na casa dos 20 e algumas horas depois de se ter acordado...
domingo, 18 de janeiro de 2009
por quê o que se corre atrás não é de ser feliz
e assim eu começasse a sentir meu corpo
em calafrios
eu percebo que é saudade
que o fundo musical é uma escolha inconsciente
de uma vontade de passado
de uma expressão de falta
que normalmente contém-se
que só se abre em casa
que sensibiliza à pele
porque eu amo o futuro adolescentemente,
como meu primeiro amor
hedônico
como quem não sabe o que faz
sábado, 17 de janeiro de 2009
madruga lifestyle
Conclusão final, por motivo de censura familiar e mundana: tentar acordar mais cedo, pra dormir mais cedo e acabar com essa vida sussudiana.
quinta-feira, 15 de janeiro de 2009
perto do céu o ar é rarefeito
e sempre foi
mas é merda acumulada
que cala
acumulou tudo
tanto que eu já sei que você vai falar
sobre ele,
filósofo...
o céu é o limite
todo mundo quer acumular
será que o Marx fala disso?
Todos eles sempre falam das mesmas coisas
tenho que lê-los
pra saber melhor
só que vou deixando acumular
aí já viu,
acumlar aumenta o abismo
segunda-feira, 12 de janeiro de 2009
Squizo-jesus
domingo, 11 de janeiro de 2009
desabafo - embalagens
Durante o processo de abertura, processo lento e gradual, desde o estudo sobre a anatomia do produto - qual seria a maneira que os designers pensaram que eu fosse abrir aquilo - até o rompante de ódio e irresponsabilidade, que abriu - só a violência constrói -, imaginei, puto da vida, o que que esses filhos da puta pensam quando inventam uma merda de uma embalagem escrota que não abre.
Imaginei a cena: uma sala de reunião, um designer fazendo uma apresentação no data-show, cheia de setinhas e legendinhas, e o produto na mão, esperando para ser aberto na frente de todos os acionistas majoritários da empresa. O designer tenta uma, duas vezes, os acionistas entreolham-se, terceira, quarta, na quinta ele consegue, demonstrando a eficiência da sua invenção: era justamente a dificuldade que eles queriam, talvez para que vândalos que freqüentam supermercados não conseguissem mais violar o produto tão rapidamente antes que qualquer segurança chegasse para retirá-los. Ou talvez para que, quando estiverem deitando suas cabecinhas em seus travesseiros, imaginem rindo o quão penosa está sendo a vida de um jovem ao tentar abrir, bêbado e chapado, sua embalagem de pastinha de soja para sua nada-mais-que-larica-da-madruga. Ou, quem sabe, na verdade, os designers de embalagem façam parte de uma sociedade secreta de ajuda recíproca, da qual também faz parte toda a elite intelectual e financeira do mundo, e instalam nas embalagens um chip que conta o tempo demorado para a abertura da embalagem e ele aciona uma mensagem de convite a integrar à sociedade se você conseguir no tempo estipulado - somente os crânios, pra perpetuação do poder e do saber. Talvez eu deva me empenhar mais pra ser selecionado, é uma grande oportunidade...
Masenfim, o que mais me dá raiva é que essas embalagens ainda conversam com você, te dizem gire para cá, faça isso, como se fosse um quiz, ou sei lá, uma tarefa do passa-ou-repassa, que todo mundo tenta e não consegue, aí você leva um jato de tinta roxa na cara - quem não lembra do Celso Portioli? Quando eu olho essas embalagens agora, abertura fácil, eu nem penso mais, me sobe um espírito ogro, eu lanço a faca e abro essa merda, mesmo que isso possa vir a a me causar danos físicos, de cortes nos dedos, como os meus, a cegueira em um olho, que ainda corro o risco. Se eu vivesse na selva acho que seria pior - pastinha de soja já não ia rolar.
agonia é normal
agonia
do mundo
real
e o medo
abissal
de estar indo mal
no mundo
(animal)
evocam
(é normal!)
idéias
sobre o mundo
e o medo
e o modo
e o real,
fugidias
na maior parte das vezes
(ser racional)
sexta-feira, 9 de janeiro de 2009
imigração irregular bem-sucedida
Nesse período, pouco conviveu com o que lhe gerara tédio no Brasil. Somente aos telefonemas, muito pouco vivia a vida do Brasil e aquela vida-expectativa-de-viver-na-Suíça, na Suíça, certamente era bem melhor que o Brasil - o que não fazem a alienação e o desenvolvimento econômico-social... Ia ao supermercado suíço, que diferença!, aproximou-se da sua legítima falsa esposa, que refinamento!, lia muito, fazia, na calma, sem ânsias ruins nem náuseas, seus estudos: vivia tranquilo sua vida mentirosa até o prazo terminar.
Terminado o prazo, nascido o novo suíço de 81kg e 1,88m e uma tal cara de latino, esperaram mais uns meses para não dar bandeira e se separaram - sua mãe vivia perguntando por que que ela havia feito isso tudo por ele, quando milagre é muito o Santo desconfia. A vida nova de Erasmo começava na Suíça e agora ele já podia voltar ao Brasil, como se quisesse...
Chegou a acreditar, depois de muitas discussões mentais consigo mesmo, de verdade, que queria, nostálgico, e voltou, de férias, uma vez; não queria aceitar, mas ia pra, digamos, comemorar - estranho? Janeiro, calor, fantasmas do passado, viu sua família diferente, seus amigos diferentes, seus destinos traçados, um vácuo de Erasmo, fujão, e a sua vida nova recém-nascida era uma mentira, um egoísmo, uma maldade, lamentava-se em seus versos...
Voltou para a Suíça e tudo voltou a ser verdade, paz e realização - quase que graças à sua nova nacionalidade, o passaporte suíço apresentado no aeroporto ao retornar - menos às vezes, em algumas madrugadas sozinhas e nevadas de férias, nos Alpes, por opção.
quinta-feira, 8 de janeiro de 2009
aberto para discussões filosóficas
Desequilibrados, nós, ocidentais? Não, aparentemente somos liberais e democráticos, o que me parece bem moderado - ou apático...
E o que poderia ser a causa principal desse pêndulo bem demarcado? Eu diria que Nietzsche encontrou a resposta, talvez sem saber da possibilidade de existência da minha pergunta. Quando ele define a nossa ethos como mais pesada para o lado apolíneo, estabelece-se carência para ao lado dionisíaco. O lado dionisíaco, sempre associado à subversão, ao pecado, começa a ser valorizado, por super-necessidade decorrente da carência. Mergulhamos sempre muito fundo nas nossas dionisíces, o que mostra a sucessão de viradas, revoltas e revoluções desde o início da modernidade, que encontrou na ciência e na arte as formas de expressar seu dionísio. Nos tornamos um povo que oscila a necessidade dionisíaca entre o prazer das descobertas céticas e o prazer das compreensões metafísicas, até fundirem-se em religiosidade, é aí que nossa alma encontra o seu dionísio.
Mas que dionisíces apolíneas!
(Me questiono se haveria alguma relação de empatia entre o ideal expansionista civilizatório romano e o catolicismo, religião de conversão e missionária, e como isso pode ter guiado a mentalidade humana pela busca da universalidade. E mais, os pecados e a doutrina de comportamento hostiliza atos dionisíacos na cultura pagã, o catolicismo e Roma, dessa forma, abafando a nossa vida ébria, o que nos faz querer buscá-la no que já foi abafado também: a cultura da arte e da ciência: nossos dionísios, as nossas dionisíces, se tornam passadistas, renascentistas. Ficariam expressos, através dessa relação, o direcionamento das práticas artísticas, científicas e religiosas da humanidade até hoje e a sua busca incansável, tanto por prazer, quanto por totalidade. Outra questão: onde estaria o equilíbrio grego entre apolo e dionísio? onde teríamos o perdido? meu palpite: império romano e suas expancionices - expansão não me parece sinônimo de equilíbrio. O império romano precisava muito de uma religião cristã para se sustentar, talvez a mitologia grega não desse conta do universalismo que a multiplicidade cultural do império pedia, além da necessidade por expansão, coisa em que os cristãos sempre foram craques. E, talvez, depois de perdido o equilíbrio, tenhamos caído numa espiral progressiva de apoliníces, onde nossas válvulas de escape dionisíacas, com o passar do tempo, tenderão a ser cada vez mais apolíneas, já que as impressões de mundo vao se construindo sobre um ambiente já desequilibrado para o lado apolíneo. Os romanos, por necessidades digamos, de Estado, valorizaram a razão. E livros sagrados não menos dotados de compreensões racionais, senão não seríamos capazes de entendê-los. Enfim, perdidos dentro de uma apolinização de tudo, até dos nossos dionísios, o que perpetua uma dialética histórica.)
quarta-feira, 7 de janeiro de 2009
dívida de bar
venho poupar minhas migalhas-misérias,
porque relatar tudo
cru
impossível
venho, em meu nome, me desculpar
não trouxe
não tive tempo, eu digo
não tive coragem, eu penso
quando não digo e penso:
estou aqui sem
estão aqui de ouvintes
e eu cansado
comsono
minguado
propondo
vamos pedir a conta?
domingo, 4 de janeiro de 2009
quinta-feira, 1 de janeiro de 2009
diferente de 68
e a virtualidade excessiva
inativa a experimentação de um romance
romântico...
mas a pós-modernidade argumenta possibilidades
reais
abundantes
quem somos nós?
contrapostas à materialidade e só.
eu tenho um subjetivismo sustentado pelas tendências:
um amor não correspondido sem alvo
e o meu tesão carnívoro
saciado por descargas químicas
em sintéticos
em cigarros
em idéias fugitivas que me calam aos atropelos
ridículo!
e a vida é isso aí, ó
da nossa cultura
achando que conta
e vangloriar isso
circundar
ciscar
cuspir
e não sair de perto.
é quase crer em Jesus e não dizê-lo
simplesmente não dizer por prazer de negar
se, é claro, Jesus fosse aquilo que disse que era
de espaço para todos
de misericórdia
e amor.
é o enovelamento contínuo e interminável
mumificando o sentimento que precisa de trégua,
digo, morrer pra sempre.
individualismo da nossa época
como a ressaca de uma animosidade com a cristandade
graças aos maus-tratos medievais.
só diga
eu vi o fim de tarde
senti o sussudio
e já estaria bom por enquanto