sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

imigração irregular bem-sucedida

Foi dito que Erasmo foi pra Suíça e nunca mais voltou, arrumou uma boa lá, quem não iria... Acontecia mesmo era da vida de Erasmo ter entrado num tédio tão grande que era preciso reconstruir. Na suíça, casou forjado e ficou dois anos nessa até conseguir a nacionalidade. Não devia receber muitas pessoas do seu país de origem, para que não se suspeitasse da fraude - era sua nova gestação, num ventre quente, apesar do vento frio dos Alpes, e isolado. Um sossego!
Nesse período, pouco conviveu com o que lhe gerara tédio no Brasil. Somente aos telefonemas, muito pouco vivia a vida do Brasil e aquela vida-expectativa-de-viver-na-Suíça, na Suíça, certamente era bem melhor que o Brasil - o que não fazem a alienação e o desenvolvimento econômico-social... Ia ao supermercado suíço, que diferença!, aproximou-se da sua legítima falsa esposa, que refinamento!, lia muito, fazia, na calma, sem ânsias ruins nem náuseas, seus estudos: vivia tranquilo sua vida mentirosa até o prazo terminar.
Terminado o prazo, nascido o novo suíço de 81kg e 1,88m e uma tal cara de latino, esperaram mais uns meses para não dar bandeira e se separaram - sua mãe vivia perguntando por que que ela havia feito isso tudo por ele, quando milagre é muito o Santo desconfia. A vida nova de Erasmo começava na Suíça e agora ele já podia voltar ao Brasil, como se quisesse...
Chegou a acreditar, depois de muitas discussões mentais consigo mesmo, de verdade, que queria, nostálgico, e voltou, de férias, uma vez; não queria aceitar, mas ia pra, digamos, comemorar - estranho? Janeiro, calor, fantasmas do passado, viu sua família diferente, seus amigos diferentes, seus destinos traçados, um vácuo de Erasmo, fujão, e a sua vida nova recém-nascida era uma mentira, um egoísmo, uma maldade, lamentava-se em seus versos...
Voltou para a Suíça e tudo voltou a ser verdade, paz e realização - quase que graças à sua nova nacionalidade, o passaporte suíço apresentado no aeroporto ao retornar - menos às vezes, em algumas madrugadas sozinhas e nevadas de férias, nos Alpes, por opção.

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