quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

aberto para discussões filosóficas

Me pergunto até quando as metáforas artísticas e o pragmatismo científico vão resistir, até quando vão conseguir encontrar, através de individualidades, relações de sentido sem que se tornem fundamentos universais... Quando haverá o inevitável encontro de todos com a miséria comum? Me pergunto também se, quando esse momento chegar, o momento de universalização máxima da vida, não estaremos inexoravelmente fadados a sucumbir ao crescimento da religiosidade... Porque o que me parece certo é que nós, através da arte, exploramos o mais profundo que há em nós e, a cada década que passa, se torna mais visível a igualdade de todos quanto aos sentimentos e sussudios. A religiosidade monoteísta que herdamos dos Hebreus nos faz simbolizar a universalidade, ao que a própria ciência e também a arte parecem nos direcionar. Até que a religiosidade se esgota. As cidades crescem, o homem se valoriza, o indivíduo se sobrepõe e nossas heranças greco-romanas avançam, e a racionalidade volta a explorar tudo até a volta ao universalismo.
Desequilibrados, nós, ocidentais? Não, aparentemente somos liberais e democráticos, o que me parece bem moderado - ou apático...
E o que poderia ser a causa principal desse pêndulo bem demarcado? Eu diria que Nietzsche encontrou a resposta, talvez sem saber da possibilidade de existência da minha pergunta. Quando ele define a nossa ethos como mais pesada para o lado apolíneo, estabelece-se carência para ao lado dionisíaco. O lado dionisíaco, sempre associado à subversão, ao pecado, começa a ser valorizado, por super-necessidade decorrente da carência. Mergulhamos sempre muito fundo nas nossas dionisíces, o que mostra a sucessão de viradas, revoltas e revoluções desde o início da modernidade, que encontrou na ciência e na arte as formas de expressar seu dionísio. Nos tornamos um povo que oscila a necessidade dionisíaca entre o prazer das descobertas céticas e o prazer das compreensões metafísicas, até fundirem-se em religiosidade, é aí que nossa alma encontra o seu dionísio.
Mas que dionisíces apolíneas!
(Me questiono se haveria alguma relação de empatia entre o ideal expansionista civilizatório romano e o catolicismo, religião de conversão e missionária, e como isso pode ter guiado a mentalidade humana pela busca da universalidade. E mais, os pecados e a doutrina de comportamento hostiliza atos dionisíacos na cultura pagã, o catolicismo e Roma, dessa forma, abafando a nossa vida ébria, o que nos faz querer buscá-la no que já foi abafado também: a cultura da arte e da ciência: nossos dionísios, as nossas dionisíces, se tornam passadistas, renascentistas. Ficariam expressos, através dessa relação, o direcionamento das práticas artísticas, científicas e religiosas da humanidade até hoje e a sua busca incansável, tanto por prazer, quanto por totalidade. Outra questão: onde estaria o equilíbrio grego entre apolo e dionísio? onde teríamos o perdido? meu palpite: império romano e suas expancionices - expansão não me parece sinônimo de equilíbrio. O império romano precisava muito de uma religião cristã para se sustentar, talvez a mitologia grega não desse conta do universalismo que a multiplicidade cultural do império pedia, além da necessidade por expansão, coisa em que os cristãos sempre foram craques. E, talvez, depois de perdido o equilíbrio, tenhamos caído numa espiral progressiva de apoliníces, onde nossas válvulas de escape dionisíacas, com o passar do tempo, tenderão a ser cada vez mais apolíneas, já que as impressões de mundo vao se construindo sobre um ambiente já desequilibrado para o lado apolíneo. Os romanos, por necessidades digamos, de Estado, valorizaram a razão. E livros sagrados não menos dotados de compreensões racionais, senão não seríamos capazes de entendê-los. Enfim, perdidos dentro de uma apolinização de tudo, até dos nossos dionísios, o que perpetua uma dialética histórica.)

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