domingo, 11 de janeiro de 2009

desabafo - embalagens

Lá estava eu, às 5:34 da manhã de domingo, sim, tinha acabado de chegar da rua, querendo comer um pouco de pão com pastinha de soja. E ela não abria. Graças à merda da embalagem. Aí eu desisti, fui pro quarto e dormi. Mentira. Eu, do jeito que tenho espírito-gordo-da-madruga e do jeito que eu estava na larica, não tinha como, eu tinha que abrir aquela embalagem. Fiquei horas tentando. Tinha um dispositivo lá, que todas essas pastas de soja têm, que você meio que abaixa, ou rompe nos pontos determinados, enfim, era um cu a embalagem e eu só consegui na grosseria, quando peguei uma faca e rasguei aquela porra lá ferozmente, como um animal selvagem faminto - por pastinha de soja, mas ok.
Durante o processo de abertura, processo lento e gradual, desde o estudo sobre a anatomia do produto - qual seria a maneira que os designers pensaram que eu fosse abrir aquilo - até o rompante de ódio e irresponsabilidade, que abriu - só a violência constrói -, imaginei, puto da vida, o que que esses filhos da puta pensam quando inventam uma merda de uma embalagem escrota que não abre.
Imaginei a cena: uma sala de reunião, um designer fazendo uma apresentação no data-show, cheia de setinhas e legendinhas, e o produto na mão, esperando para ser aberto na frente de todos os acionistas majoritários da empresa. O designer tenta uma, duas vezes, os acionistas entreolham-se, terceira, quarta, na quinta ele consegue, demonstrando a eficiência da sua invenção: era justamente a dificuldade que eles queriam, talvez para que vândalos que freqüentam supermercados não conseguissem mais violar o produto tão rapidamente antes que qualquer segurança chegasse para retirá-los. Ou talvez para que, quando estiverem deitando suas cabecinhas em seus travesseiros, imaginem rindo o quão penosa está sendo a vida de um jovem ao tentar abrir, bêbado e chapado, sua embalagem de pastinha de soja para sua nada-mais-que-larica-da-madruga. Ou, quem sabe, na verdade, os designers de embalagem façam parte de uma sociedade secreta de ajuda recíproca, da qual também faz parte toda a elite intelectual e financeira do mundo, e instalam nas embalagens um chip que conta o tempo demorado para a abertura da embalagem e ele aciona uma mensagem de convite a integrar à sociedade se você conseguir no tempo estipulado - somente os crânios, pra perpetuação do poder e do saber. Talvez eu deva me empenhar mais pra ser selecionado, é uma grande oportunidade...
Masenfim, o que mais me dá raiva é que essas embalagens ainda conversam com você, te dizem gire para cá, faça isso, como se fosse um quiz, ou sei lá, uma tarefa do passa-ou-repassa, que todo mundo tenta e não consegue, aí você leva um jato de tinta roxa na cara - quem não lembra do Celso Portioli? Quando eu olho essas embalagens agora, abertura fácil, eu nem penso mais, me sobe um espírito ogro, eu lanço a faca e abro essa merda, mesmo que isso possa vir a a me causar danos físicos, de cortes nos dedos, como os meus, a cegueira em um olho, que ainda corro o risco. Se eu vivesse na selva acho que seria pior - pastinha de soja já não ia rolar.

2 comentários:

Billy disse...

huahauhauhuhauahuahuahauhauahua!!!!

Tipo a proteção de lástico que envolve as embalagens dos CDs

Mas no mais acho que se você estivesse de cara a pastinha de soja chegaria rapidinho ao seu estômago..haahahuahauhau

Faber disse...

rindo muito aqui!

sabe o que eu odeio muito? tampinha metálica de iogurte em potinhos, sabe? elas NUNCA abrem inteiras. fica sempre um pedaço meio fiapento que mergulha no iogurte e te força a melecar o dedo todo tentando salvar aquele pedaço de tampinha metálica do afogamento. isso aquelas que abrem, né, porque os caras que desenharam a embalagem imaginam que todos no mundo cultivam unhas longas para conseguirem abrir aquela budega! eu que roo unhas fico a ver navios quase sempre. mentira. porque eu agora so compro iogurte em garrafinhas! rá!