quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

começando a desconstruir Marx - introduzindo o Cumulativismo

Vir com o papo de que a luta de classes sempre existiu, pra mim, é conversa pra boi dormir, ou então o significado de luta é outro que não o atribuído hoje literalmente - e talvez também o de classe. Como conceito de luta temos o embate, rivalidade, noção de inimizade e confronto. Luta de classes, assim, só consigo vizualizar historicamente a partir da idade moderna, onde me parece também surgir a idéia sensação de classes também. O acúmulo de bens que surgia como principal virtude, concomitante ao crescimento dos Estados Modernos Absolutistas, que centralizavam, e valorizavam a cidade, cuja estrutura é fortemente hierarquizada e complexificada, refletia numa acumulação espacial de pessoas e pessoal de bens e poderes. Era possível ver a diferença entre os grupos: o mais rico e o mais pobre, as classes. Na idade média, descentralizada, não se podia perceber as classes, as coisas eram mais particularizadas, como a divisão do trabalho era. Por compreender maior número de pessoas reunidas em volta do centro de poder político e econômico, as diferenças classistas surgiam agrupadas, aglomeradas. O modelo capitalista que evoluia permitia avanço tecnológico, criação das máquinas e criação de produtos, diferenciação de preços e os bens que se poderiam acumular tornaram-se muitos - para quem tivesse dinheiro. Ao mesmo tempo, fortaleciam-se idéias burguesas politicamente e a idéia de propriedade privada se instalava como regra geral para as insurreições burguesas - e quem seriam os proprietários das terras, nobres ou muitos servos? Nobres, em geral. Cercamento dos campos. Dessa forma, a relação social que se afirmava na Idade Média vai se perdendo. As noções de suserania e vassalagem, que cristalizavam a sociedade em ordem, tópico hiper-valorizado pelos pensadores sociais do cientificismo/realismo do século XIX, ruiam e a noção de interdependência também. Os feudos, cúmulo da descentralização do poder, mantinham uma relação mais próxima entre os seus habitantes. Por mais que o nobre fosse nobre, materialmente o que ele tinha além dos servos era um castelo e mais comida - se houvesse algum problema com as safras em seu feudo também representaria para ele um risco -, e além disso ele oferecia um bem extremamente valioso para o homem medieval: a segurança. A Idade Média vivia sob conflitos étnicos, religiosos, ameaças de saqueadores e possíveis mortes por ataques de animais, enfatizando a necessidade de um suserano, de um protetor - o senhor feudal, uma figura mais próxima dos servos, o governador da região - semelhante relação, imagino, às dos coronéis do sertão e seus "afilhados". Mas, conforme essa organização social foi se dissolvendo, tomada de constantinopla, necessidade de desenvolvimento das cidades e do capitalismo assistido por um Estado, as complexificações foram surgindo. Complexificaram-se as relações sociais, a divisão do trabalho, a forma como passou a ser interpretada a propriedade, a hierarquização, a ciência, a tecnologia, a economia. Com o fortalecimento do capital e, assim, investimentos em novos meios de produção, que permitiam a geração de mais capital e assim de mais investimento em tecnologia, a burguesia passou a deter, além de muito mais riquezas que tinha um senhor feudal - hoje existem iates particulares -, a burguesia detém muito mais poder. Os governantes poderosos, de limites políticos bem mais habitados que feudos medievais - metrópoles, países, estados -, são distantes da população e muito mais próximos da classe responsável pelo setor produtivo. As centralizações de poder sobre países e não sobre organizações sociais pequenas trás a imagem de uma Luta de Classes - uma classe excluída e outra globalizada. Além da percepção de divisão classista, em virtude da dificuldade de acesso ao poder de consumo, é possível também perceber a desvalorização do trabalho braçal e da classe operária, também como uma causa dessa dificuldade de consumo da maioria. As suas capacidades políticas, assim como seu potencial de consumo, em função da sua desimportância econômica e social, também são reduzidas. Que operário tem importância depois da segmentação do trabalho e do surgimento do exército de mão-de-obra decorrente do êxodo rural imposto? Que campo precisa valorizar e manter empregado o trabalhador rural se há máquinas para executar seus serviços? Só assim se pode perceber uma efetiva polarização em classes, só quando não há a sensação de funcionalidade e complementaridade entre os entes da sociedade. Dessa forma, ouso concluir uma desconstrução sobre o pensamento marxista. Se a Luta de Classes, base da dialética histórica, surgiu com a modernidade, é possível ainda sustentar que tudo é dialética, que toda a história foi dialética, dividida sempre em uma Luta de Classes? Não me parece certo depois de toda essa reflexão. O Cumulativismo me parece suprir a explicação tanto da forma como o materialismo histórico se apresenta, como da razão para o pensamento Marxista ter se fundamentado na dialética.
(Mas e a classe média nisso tudo? Um pequeno acúmulo que cresce sempre mais, a classe média não tem noção de exploração, pois se vê útil em seu consumo, sua forma de manifestar poder, de se sentir complementar à sociedade. Inferior, mas reconhecida - quem pagaria os impostos e compraria os bens produzidos, quem? Não seria o exército de mão-de-obra, ah não...)

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