segunda-feira, 24 de setembro de 2007

Saindo para a diversão

Estava lá, sentada, minhas amigas tinham ido dançar, estavam no pique extraordinário do ébrio, perguntaram-me se não queria ir com elas, já tínhamos fumado alguns rets, bebido um pouco, era hora de dançar, de rir, de sorrir, não de pensar. E eu pensava. Pensava na solidão que eu sentia. Sentia por não querer estar lá, dançando com as meninas, nem me pegando com alguém, nem em casa sozinha em frente ao computador. Saí para ficar sozinha, pensando nos outros que eu via naquela boate, pensando em mim vendo os outros. Mas não me sentia realmente sozinha, senti que meu sentimento de solidão era falso, que não podia me sentir só, que injustiça, eu tinha família, mãe, pai, irmãos, tinha comida, meu pai pagava minha faculdade, tinha amigas – que estavam comigo há 2 minutos atrás –, tinha meu drink na mão, assim como meu cigarro, já tinha tido namorado, tinha a companhia dos meus livros, da música, até da sociedade, que me beneficiava por eu ser classe-média alta. Eu era realmente muito egoísta por me sentir sozinha, mas era assim como me sentia. Me sentia à parte de tudo, das minhas amigas, das pessoas que dançavam freneticamente na boate, dos meus quase-amigos com quem eu não tinha assunto e estavam ali do outro lado do sofá sentados enfileirados olhando para frente, fumando um solitariamente uns com os outros. Eles pareciam todos muito sozinhos, como eu, à parte de tudo, pensando cada um em seu mundo, em sua vida, sem conversar, sem dançar, somente olhando para frente e rolando e tragando o beck. Foi quando um deles viu que eu olhava e me chamou:

- Ei, Cela, senta aqui com a gente!

Não sei se queria sentar ao lado deles, já estava muito chapada e iriam me oferecer o ret para me integrarem e eu já estava mega-chapada e não queria conversar com eles e não teria o que conversar com eles e:

- Não obrigada – rejeitei o baseado e continuei ali, ao lado de quem me ofereceu, como um deles que não conversavam, sozinhos, olhando para frente, pensando sobre qualquer coisa, inclusive sobre a situação pela qual eu passava.

Me sentia agora ilegitimamente sozinha. Ao lado de outros sozinhos não era solidão. Mas ao mesmo tempo era uma puta de uma solidão. Não era amiga desses sozinhos, não era não-amiga deles. Era a única que estava sozinha naquela situação, entre eles. E pensava em algo realmente sozinho, a solidão. E como que imperceptivelmente, fui chegando um pouco para o lado, nada que fizesse com que percebessem minha distância, mas queria que fisicamente eu me sentisse distante deles, sozinhamente sozinha. De repente:

- Oi, gatinha, ta sozinha aí por quê? Esperando o príncipe encantado? Se for isso, cheguei! Qual seu nome? Me dá um beijo?

-Sai daqui! – desvencilhei-me dele gloriosamente e fui me direcionando para a pista, encontrar as meninas, e fui pensando que realmente estava sozinha e nada exterior poderia modificar isso, só constatar mais. “Ta sozinha por quê?” ecoava na minha mente. Mesmo estando ao lado de alguém, de pseudo-amigos, de sozinhos em grupo, eu estava sozinha e o mundo podia ver isso e agora eu chegava perto das meninas, ia contar o que aconteceu faticamente. Deixaria o subjetivismo solitário sozinho e mudaria de humor, contaria a elas o quão engraçado foi e ia ficar sozinha, no meu grupo de sozinhos, com quem eu poderia pensar sozinha sobre a solidão e humoradamente vivenciaria a wannabe cool noitada que prometia fatos engraçados e pensamentos sós.

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