sexta-feira, 2 de maio de 2008

Cachimbo, haxixe, tabaco. Tesoura, isqueiro, seda. Estava tudo ali em cima, à espera do início do trabalho. Nada daquilo, contudo, se movia sozinho, se fazia sozinho; alguém haveria de fazer tudo, de fumar tudo, mas relamente não parecia ter ninguém por perto. O tabaco continuou parado, assim como o haxixe. Um do lado do outro, fronteirços à folha de celulose cortada industrialmente e à tesoura e ao cachimbo. Intocados, inabalados, continham tudo em potencial.
Nada funcionava sozinho. Sem alguém, que tinha ido na cozinha, bebido água, encontrado com a mãe no corredor, resolvido problemas dela, acabou ouvindo asneiras da cunhada, ponderações do pai e do irmão, e já nem lembrava mais deles, ali na gaveta. Em dado momento, notou que seus receptores coçavam. E coçaram muito e muito, e sentindo isso, os utensílios esquecidos e cheios de potencialidade pareceram exalar todo o seu feromônio. Como um cão naqueles desenhos do tom e jerry, que vai voando ao encontro de um punhado de carne, hipnotizado, ele sentiu uma ânsia. Seus receptores, nesse momento, já uivavam. Há tempos que já estavam enfeitiçados pelo haxixe. Desvencilhou-se de todos rapidamente, seguiu para o quarto sabendo o que queria. Pelo corredor, trocou olhares que já reconheceram o que viria a acontecer naquele momento, naquele quarto. Dificilmente o incomodariam. A porta foi trancada, tudo preparado, tragado, chapado.

Nenhum comentário: