quarta-feira, 28 de maio de 2008

Tagarelando

No teclado, as mãos não correm de um lado pro outro. Não há um movimento uniforme de todos os dedos para a direita e depois para a esquerda, ou para cima e para baixo, tanto faz. As letras estão espalhadas pelo teclado e, para formar sentidos diferentes, incluir vírgulas, determinar funções sintáticas, classes gramaticais e tipos de orações, é preciso ter as mãos por todo o equipamento. Os dedos nunca se cruzam. É impressionante: a mão direita nunca perpassa a esquerda, nem o contrário ocorre. Elas dividem o trabalho, o texto tem a influência das duas. Não é como a escrita com uma caneta, definitivamente não é. A razão para tal eu tento encontrar aqui, agora, mas já tinha percebido essa diferença há algum tempo: imagino que seja porque, à caneta, o uso de apenas uma mão transfere somente uma parte de tudo o que se passa no cérebro no dado momento, enquanto que com as duas mãos, no teclado, é possível que mais partes do cérebro atinjam expressão através da escrita. E também tem outra coisa: o teclado te possibilita ver todas as letras, todas elas, todos os sinais, números; não sei de quê nem por qual motivo, mas imagino que isso possa ser uma evidência; talvez provoque maior facilidade de construção de palavras pela visualização geral. Mais informação: a escrita com caneta - ou lápis, lapiseira, derivados - é mais robusta, sei lá, me parece mais rouca, mais ameaçadora, mais dinâmica. Aqui, porém, é tudo mais leve, sem impetuosidade, tão mais distante de tudo o que todos vêem acontecer. É virtual, essa era a palavra. Uma quase realidade paralela, com sentidos e consciências diferentes, tudo nas palavras - viagem profunda e romântica. Só sei que é livre de preocupações externas.
[acontecimento real]
Preocupações externas, elas agora me vêm: algo aborrecedor aconteceu agora, enquanto escrevo, e por isso, me sinto desconfortável para continuar por muito mais tempo. Quero parar, me retirar e poder relevar essa babaquice rápida sozinho. E é verdade também que já estou um pouco cansado e achando que isso pode não acabar em nada. Acho que o acontecimento em desestimulou. É melhor parar, eu presumo.

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