terça-feira, 6 de maio de 2008

Vassalos de um Suserano Imperceptível

Os planos de vida da nossa sociedade me fizeram rir internamente hoje. Nos preparamos para exercer uma função que nos remunera com algo que eu gostaria de chamar de “vale-sobrevivência”. Não aprendemos a sobreviver de fato. Se por alguma razão louca o mundo entrasse num colapso nuclear e tivéssemos que sobreviver com o que sobrasse, de nada serviriam a literatura, ou a sintaxe, ou mesmo a conjuntura política da União Européia, nem o funcionamento de resistores ou qualquer outro mecanismo avançado das ciências exatas. Somos ensinados, desde crianças a servir a sociedade em que vivemos. Também nos fazem assimilar a sobrevivência ao que aprendemos a fazer, permitindo nos julgarmos extremamente superiores aos animais que aprendem a sobreviver na marra. Eu diria que fomos sobrevividos, a maioria dos humanos. A classe mais forte percebeu a necessidade da mais fraca, e os ensinou a servi-los, dando-lhe a garantia da segurança. Suserania e Vassalagem. Dentro desse feudo protegido, formamos o nosso mundo. Um mundo paralelo à selva. Sem influência dela sobre nós, pois não são mais tão comuns as interferências danosas da selva sobre nossas vidas, ela foi esquecida. Criamos dentro do sistema opções, injustiças, belezas, indivíduos. Capazes de sobreviver sozinhos, sem a necessidade de suserania e vassalagem exposta. Nos esquecemos de que só vivemos assim graças ao feudo. Nem vemos mais o feudo. Nem sabemos mais que é ele quem nos rege, nem que o servimos, pois há tantas opções que parece que sou eu que decido. Acho que é culpa dos românticos, que idealizam, que individualizam e que desconsideram todas as estruturas para falarem de si. Lembre-se das estruturas. Lembre-se do seu suserano. Por mais que continue vassalo.

Um comentário:

Tangolomango reviews disse...

cara, eu fico enrolando mais tempo do que o necessário pra ler esses seus textos, pq simplismente não quero nunca terminar de lê-los.
=**