Em dialetos incompreensíveis minha mente berra. Ela está desesperada numa língua bizarra que eu não consigo compreender. Percebo sua expressão, entretanto. Tudo aquilo que ela parece sentir, todo o seu pânico, sua turbulência que, se tivesse braços e pernas, estaria pulando e me sacodindo. Sei que ela está mal. Sei que ela não consegue se fazer entendida e por isso mais desapontamento. Se ela chora, eu sei, pois se fosse visível, eu poderia ver o choro. E ela chora. Sinto ela como se fosse alguém que eu vejo, que eu divido realidade, uma pessoa, como eu, como você ou a Vera Fischer. De tanto gritar em vão, de tanto se arrebatar com a incompreensão, ela sentou e calou-se - era o que teria feito se fosse uma pessoa. Agora, só de vez em quando ela tem uns surtos e grita, geme, urra no seu dialeto, mas só por pouco tempo. Um tempo aterrorizante para quem tem que ser o único a compartilhar e não compreender - nem poder ajudar.
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