segunda-feira, 14 de julho de 2008

Pós-night

Quando estava ao redor dos outros, ela era misteriosa. Não que não falasse, não que não interagisse, não que não estivesse agindo normalmente, estava, mas não era isso, não era por isso que chegava em casa e sentia-se daquele jeito. Com os outros, bebia e bebia e dava conselhos, conselhos às amigas, que amavam seus conselhos, sua companhia e indagavam internamente, talvez até umas com as outras, nunca com ela, por que diabos a amiga não pegava ninguém! No fundo todas sabiam, até ela já sabia o que achavam, ela era meio feinha, a mais feia do grupo, era meio calada, apesar de não tanto e sei lá, talvez ela fosse assim. Mas ela sabia outras coisas, que só ela sentia.
Chamou o taxi e entrou:
- Me leva ali pra Botafogo, perto da 19 de Fevereiro, ali pela rua do cemitério.
Dentro de taxi ela via o aglomerado de gente ir embora, não tão rápido a ponto de distorcer nada, via perfeitamente os semblantes risonhos de todos, os semblantes que ela mesma sustentava há pouco tempo atrás, antes de resolver ir. Pensou em possíveis azarações, descartadas rápidamente sem saber por que. Dentro do taxi, pensou que talvez, se já estivesse mais velha, se pudesse analisar com um olhar de quem já viveu... Mas que merda isso! Desejou muito, mas muito, chegar em casa. Havia uma sensação de estranheza a tudo e de tudo a ela.
E essa sensação elas, as amigas, sentiam, essa sensação ela sentia.
Abriu a porta do apartamento, segurança, isolamento. Agora estava em casa, território seu, e podia sentir e pensar tudo aquilo sozinha no quarto - e certamente escreveria alguma coisa sobre isso, muito para não deixar passar em branco aquilo que tinha tudo pra passar.

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