domingo, 28 de setembro de 2008

Considerações de beira de sussudio

Considerar sobre a beira do sussudio. O sussudio é um nome, portanto, como todos os nomes, não é aquilo que é, é só uma representação. O sussudio é sintomático, não é totalmente racionalizável. Quem tem sussudio comenta com outras pessoas sobre o sussudio e elas também percebem que o que elas tem é o sussudio e, a partir do nome dado, conseguem fazer milhares de associações sobre os sintomas do sussudio. Os sintomas do sussudio só são perceptíveis através de uma arte; para se poder considerar racionalmente sobre o sussudio é preciso que já se tenha sentido e que já se tenha entendido sensivelmente, sintomaticamente, o que é o sussudio, só não havia o nome. O sussudio, me canso de repetir, é a emoção que move a sociedade. Por não conseguirmos dizer o que era o sussudio e também devido às suas características imorais, o sussudio só conseguiu ser dito depois dos anos 60 e 70, depois daquelas considerações em busca da real verdade. Nos anos 60, conquistou-se a liberdade para poder falar sussudio e comunicar aos outros, comunicar aos outros o sussudio era possível. Não que se pudesse esmiuçar o sussudio, só podia-se nomeá-lo. Não se viu possível descobrir o que é o sussudio como um todo e acredita-se que não é a liberdade que vai nos guiar para isso. A liberdade, aquela que veio com a ciência e a razão na virada copernicana, só se viu capaz de dar nome aos bois. A moral restante da idade média, cristã, até hoje impede que se fale de todo o sussudio, de todas as coisas que se relacionam com ele. A liberdade talvez consiga atingir o sussudio pleno se conseguirmos nos libertar da moral cristã. A liberdade vai nos permitir relacionar todos os nossos sintomas ao sussudio e, dessa forma, ver todas as suas formas, descobri-lo todo, todos os seus funcionamentos. Mas vamos ficar sem saber a origem do sussudio. A origem do sussudio deve ser a mesma origem do universo e não vejo pouca possibilidade de isso ser uma verdade completa. Partindo do sussudio já nomeado, se pode considerar muito profundamente sobro o sussudio, ele pode ser instrumento de criações de verdades mais verdadeiras que as outras que descobrimos. O sussudio é extremamente importante para as nossas vidas, saber dele eu digo, ou melhor, se senti-lo, é melhor sabe-lo como sussudio. A partir desse conhecimento, o sussudio se torna um instrumento para resolver questionamentos contemporâneos até então insolúveis. É como o número imaginário na matemática, criou-se porque sem ele não se resolvia e, como não é verdade o não resolver das coisas, pressupôs-se que existia algo que seria o que resolveria a equação. E funcionou, resolveu. Passamos dessa fase do jogo. Agora já podemos chegar na próxima, agora temos mais um conceito que deve ser estudado. Aulas de teoria do sussudio. O sussudio é imaginário e só podia ser, porque de acordo com as leis normais da física ele não existia. Mas, como as leis normais da física não explicavam e precisavam de uma linguagem imaginária que pudesse ir além daquilo tudo, nomeou-se e definiu-se o que seria esse novo instrumento: a noção de sussudio, a aceitação do sussudio como algo real. O sussudio não poderia surgir em outra época que não a nossa. A histeria neurótica da sociedade pós-moderna. O vazio da falta de fé por causa da razão e da liberdade pra dizer qualquer coisa. Falou-se daquilo que ninguém tem coragem de deixar de ser, nem consegue e que, pra poder aliviar a barra, ri disso. Ri do sussudio. O sussudio é imaginário e tão real, por ser necessário, que parece estúpido. E risível. O sussudio físico não existe. Por isso há sensação de beira. A sensação de beira é proveniente da crise da razão, de não conseguir explicar através da empiria o sussudio, que é algo extremamente imaterial. Por estarmos à beira do surto, fomos capazes de perceber o sussudio, precisamos nomeá-lo para podermos não cair dentro do sussudio, só beirá-lo e olhá-lo de cima, nomeando-o todo. Para quê nomeá-lo todo, descobri-lo todo? Para não nos dar mais interesse pelo sussudio, para já sabermos tudo o que há naquilo e nos sentirmos confiantes de seguirmos em frente, tendo já beirado o sussudio, analisado-o todo e ido, seguindo em frente na vida, com a sensação de que se conhece toda a estrutura do sussudio, sem nunca tê-la vivido, imergido nela, caído da beira. Nos sentimos inseguros e à beira dele; nunca conseguimos achar que estamos nele totalmente, achamos que a loucura é cair da beira, rimos de termos cogitado tamanho absurdo. O medo que temos de ir além no sussudio é ter que tentar descobrir mais conceitos imaginários para solucionar os problemas que o sussudio pode vir a trazer - não sabemos se ele traz outros problemas porque temos um medo, ainda da moral cristã, de falar abertamente dele, de aprofundarmo-nos nele; queremos somente beirá-lo, como se fosse o primeiro de muitos precipícios pelos quais teremos que passar daqui pra frente. Diria que a humanidade caminha agora sobre outro tipo de relevo, mais montanhoso do que as planícies que se vinha vivendo. A liberdade, quem nos encaminhou para essa terra de relevos montanhosos, traz o sussudio ao debate. Se alguém sente ele e mais gente também sente, é possível de se discutir sobre a existência do sussudio e a partir daí nos deixarmos permitir descobrir se o sussudio trará ou não problemas. Não sabemos se devemos tentar descer ou se devemos permanecer pelo alto. O sussudio, infelizmente, sofre movimentos de resistência a ele. Poucos querem descer. Existem terroristas que se matam em resistência ao sussudio, em nome do medo do sussudio, mobilizando a opinião pública, tentando mostrar o sussudio como algo prejudicial: eles são os suicidas de todo o mundo e aqueles que matam amigos no colégio nos Estado Unidos e no cinema aqui no Brasil. O sussudio é fundamental e soberano, acredito que nada conseguirá deter o sussudio. É questão de tempo a sociedade toda perceber a importância do mapeamento do sussudio, não adianta resistir. É quase como que uma revolução ao inverso; não agirmos para segurá-lo é que irá alcançá-lo. O sussudio deve agir; nós devemos estudá-lo, seguindo em frente, pro futuro, pra verdade (?) ou pros próximos sussudios. Devemos ir olhando, fazendo cálculos, anotando coisas sobre o precipício, construieremos máquinas e desceremos, segmentando-o, a nosso modo, ou então nem nos interessarmos por ele, que é também uma opção plausível.

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