domingo, 21 de setembro de 2008

Literatura, modernismo e totalidade

Acho que não se pretendia chegar a esse ponto com a literatura. Não se imaginava pretender, acho que esse é o melhor termo, com a liberdade desbravada pelo modernismo, alçar toda essa complexidade, toda essa possibilidade de explicação do mundo, que se confirma, obra após obra, ineficiente. As palavras nunca serão a totalidade, nem da emoção, nem do pensamento. A literatura não consegue; Clarice, Pessoa, muitos já cansaram e cansaram de nos dizer isso da maneira mais exuberante e poética do mundo. É triste dizer, mas eu digo: o sonho fomentado acabou. Pelo menos pra mim, que acreditava poder na literatura descrever e enunciar tudo, desde as mais vácuas emoções aos pensamentos mais profundos. Fui iludido pela libertinagem. A literatura, impossível de se acreditar, é a literatura. Só literatura - um suspiro, e como a literatura é só! E ela é linda, não vamos negar, apesar de ela não ser a nossa resposta para o mundo e nem será nela que a vamos encontrar ou por meio dela exprimi-la. Portanto, aquela vontade impetuosa de liberdade do modernismo, de desprender-se e assim chafurdar conceitos, pensamentos e idéias, se ruiu com o choque que as palavras nos trouxeram ao não conter tudo, ou ao não poder esmiuçá-lo todo. Mas não se deve menosprezar a liberdade alcançada, por mais que ela não tenha sido capaz da obtenção dessa tal verdade, afinal nós que a guiamos para esse caminho. A liberdade nos trouxe a nós mesmos; nos trouxe mais pra perto do como nós queremos dizer o que pensamos/sentimos. Ela nos encaminhou à consciência sobre a arte, não sobre o que ela pode ser, mas nos mostrou de certa forma até onde ela não consegue chegar, o que ela não consegue ser: aquilo que eu nem vou começar a tentar dizer o que é.

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