domingo, 7 de setembro de 2008

passou pela soleira

Ele sempre entrava por último pelaquela porta, ele, nunca em silêncio, sabia que o estavam esperando. Antes entrava um amigo seu, um bonitão, alto, simpático. E em seguida vinha ele, gordo, meio mulambento, geticulante e falador. Insuportável. Todos atentos à sua chegada - ele gritava por isso, por bem ou por mal, sempre aguardavam. Sim, e ele chegava e se fazia presente, falava alto, chamava a atenção dos outros e não se cansava de contar piadas só por contar piadas - ele era muito chato. Sempre com um chapéu, que de vez em quando tirava e se podia ver sua cabeça oleosa, seus cabelos achatados, há tanto tempo abafados dentro daquela estufa quente e nojenta que o chapéu fazia com a sua cabeça e cabelos. O país era tropical, a umidade relativa do ar era alta e ele usava chapéus quentes e camisas de botão e não parava de gesticular: era até um pouco afeminado. De vez em quando, desafinava a voz propositalmente, sempre durante uma piada sem graça. Sentava no chão, sim, gostava de sentar no chão e gostava que todos olhassem para ele, no chão, assim que começava a falar alto nada com nada. Não admitia que outra atividade tivesse seu foco de atenção, ele era carente, portanto, se começassem a mexer no computador ele teria que trazer todos para o computador e ele não pararia de falar sobre o computador, até que pegaria o mouse da mão de quem controlava antes, escolheira alguma coisa para se fazer, faria piadas sobre aquilo, perturbaria alguém de alguma forma com o novo site acessado como pano de fundo. Perturbou até que um foi embora e ele percebeu, perdeu por alguns segundos a pose e logo lançou seu comentário depreciativo-piadista sobre a ida de quem ia por causa de sua presença. Resumindo: ele era um gordo escroto.