domingo, 21 de junho de 2009

a causa das intempéries da vida, o princípio do prazer

andar nas ruas
me perdi

estalava o chinelo
a minha sola do pé
eu olhava pra baixo
e via correr pedras portuguesas
com todo o seu conteúdo material
e sujo.
um mendigo sentado numa soleira
de uma loja fechada
domingo
às nove horas sujas da noite

eu tinha saído de casa
pra depois voltar.
eu atravessei o túnel
barata ribeiro para a raul pompéia
mendigos
aquelas luzes amarelas crepitavam
o som dos carros
dos ônibus!
o estalar do chinelo
a sola do pé
a pior parte do caminho, o túnel dos mendigos sujos, não acabava.
Na volta, eu não voltei pelo túnel.

Chegar aonde chegaria, e cheguei, para sentir a luz da tv
muder de cor
mudar de take
e o reflexo disso
nos meus olhos,
nos olhos deles,
que falavam, citavam, sorriam
eu que me deixava entender
pelos medos ridos
pelas mãos imóveis
pela voz latente
ou mesmo pelo silêncio e pela imobilidade.

Voltei por onde voltei quando tive que voltar para não ver o túnel,
não queria que houvesse o pior para terminar.
Lá, depois do túnel, para onde saí de casa pra voltar,
não poderia dizer que era um bom motivo de velhos hábitos e velhos amigos
não poderia dizer que pudera o tempo escorrendo seus imperativos,
a vida e todos os seus paliativos, a selva e todos os seus caminhos...

É quando é preciso voltar
pela Nossa Senhora de Copacabana
ruim
suja
como o túnel era na ida
como a raul pompéia não fora em seguida
porque o efeito do pior é o bom.

Eu saí de casa, do pior
para o bom e voltei,
quando foi pior,
para o bom que seria ao voltar.
Não importariam as luzes iluminando os mendigos
nem a matéria das pedras portuguesas além de somente seus nomes
o estalo do chinelo
o desconforto do espelho
a mão no bolso acusando no tato o você que eu sou
nem a morte
e o sujo
e o imundo
e o mundo
e o fundo...
para que se possa sentir o melhor vir do por-vir.

O princípio do prazer é sentir
que tudo é melhor
do que poderia ser,
buscar o mais inexistente da vida,
o além de comer e dormir;
o olhar que nós damos
do bom e do ruim
dentro do normal de sempre
para que haja a guerra dos opostos
movimentados
para que se forje um telos
um fruto
uma vontade
por meio do relativizar.

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