A erudição acadêmica me irrita: é como se fosse necessário escrever tudo entre aspas, palavra por palavra, cada uma delas, entre grandes e gordas aspas algumas, as outras entre aspas menores e mais adequadas; para que não haja brecha para a má interpretação! Parece que não se importam em procurar entender, como se a ciência fossem somente as ideias totalmente claras e distintas. E desde quando o estatuto de coisas claras e distintas é eterno? Quanto mais nas ditas humanidades... A concepção de racionalista, da ideia pura, verdadeira, salvadora já não salva mais ninguém. A catarse, no meu entender, seria a forma pela qual o entendimento científico devesse se pautar: é preciso compreender a ciência como se ela fosse uma palavra criada, estimulada por algum evento externo, que incita a necessidade de atribuir uma referência que represente o sentido. A ciência, no meu entendimento, se aproxima de qualquer criação. Deve-se procurar entender o sentido de qualquer criação, não há criação sem intenção útil. É preciso se prestar a ouvir uma possibilidade; que pode ser tão real quanto qualquer idéia clara e distinta que venha a ser derrubada anos mais tarde por um novo paradigma; que pode nos alarmar sobre uma evidência desapercebida, algo que pudesse representar perigo, como o se-fosse-uma-cobra-me-mordia. Não há criação que surja do nada: todas dizem respeito à realidade, que é justamente o meio comum a todos no qual a ciência trabalha. Todos são capazes de entender qualquer coisa que diga respeito à realidade, já que é desse meio que fala a linguagem, a ciência, a arte: a criação. Todo e qualquer enunciado é um enunciado sobre a realidade, o meio comum a todos, porque enunciado é comunicação e comunicação presume capacidade de compreensão. Faça-se o trabalho de arqueólogos, busque-se compreender o sentido dos rastros que foram deixados por todo e qualquer ser que expresse algo procurando ouvidos. Enunciado é verdade, todos os enunciados. Sempre se é alguém e nunca ninguém. Chega de falácias de autoridade, sem dizer não ao conhecimento. Não há má interpretação, há, sim, extensão do conhecimento quando outro escuta, que não se deve deixar de expressar.
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