terça-feira, 16 de junho de 2009

não deixa de ser eu

Reduzido,
me dei conta hoje no metrô,
a somente um ser de sentir sabido,
de vastos vazios e profusões
profundas
já todas reconhecidas e mapeadas.
Agora EU já sei,
ninguém mais me ensina
o que sinto,
eu mesmo me respondo;
e me calo, compreendido
por mim, silenciado
por cognições e sinapses
positivadas.
É bem como se eu sentisse minha emoções mais arrasadoras
engarrafadas
dentro de poliedros de cristal, como enfeites,
bibelôs através da fina camada transparente de vidro;
objetos
agora
apenas,
inofensivos, meros corpos fechados, enjaulados,
expostos para contemplação,
abertos para visitação - pipoqueiro na porta -,
emoldurados para que eu possa vê-los,
enxergá-los, trabalhá-los,
mas não, não posso
invocar mais nada,
nenhum deles:
minhas sensações se tornaram
espectros
montados para o espetáculo da especulação:
posso analisar de todos os lados, por todas as faces,
enuncio tudo;
sou um naturalista desenhando espécimes.
Não sou mais embriagado por tudo,
apenas vejo, reparo e digo.
Sentir,
sentir mesmo, não sinto mais nada.
E a pergunta da vez:
agora
trago fumaça para que
deus,
então?

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