domingo, 15 de novembro de 2009

Uma vontade de domingo

Eu tenho uma mania, ou melhor, duas. Uma é que eu sempre acho que meus pensamentos já foram pensados por alguém (sempre tendo a dizer pra mim "ah, mas isso, fulano já falou..."), e a outra, (quase que) decorrente dessa primeira, é que eu sempre tenho muita vontade de escrever e poucas vezes tenho ideias que deixei germinar livremente na minha cabeça para passar pra palavras. Perante essa situação, consigo vislumbrar alguns pensamentos que sempre me decorrem. Um, o mais clássico, é que devo persistir em pensar que uma hora eu vou chegar a falar algo que alguém não falou, mesmo que venham e me taxem de interpretação. Outro pensamento é o de que, não caindo nas armadilhas de qualquer pensamento longamente prolongado, eu percebo a realidade cruamente, sem nenhum desligamento abstrato dela, um ateu sem prendimentos teóricos - um ateu de verdade abole qualquer instância abstrata que possa confortá-lo, ainda que só pessoalmente. Outro pensamento é mais emocionado: como é injusto que a sociedade ofereça que "todos-podem-ser-tudo", por que a gente compra essa ideia e depois fica com cara de taxo, transferido de atendente pra atendente de telemarketing do SAC do mundo, vulgo DEUS, até que a gente se toca e vê que esse QUASE tudo que ainda não foi dito é muito escasso e tem muita gente e você provavelmente não vai conseguir. Aí, às vezes eu acho que é natural, sabe, a pessoa nasce com isso, sei lá, genialidade pode ser algo que você tenha sem saber e só vão descobrir depois da sua morte, ou depois, quando você estiver um pouco mais velho, lá com seus 30, mais ou menos - porque passando os arredores dos trinta talvez já tenha passado a fase (nunca nos esqueçamos de Cora Coralina, um achado de Drummond. Mas, porra, ela é uma velhinha-inha, vovó do interior fofa roots, nunca serei algo tão pop quanto ela). Ou de repente, ficar nessa de pensar filosoficamente, abstratamente, já seja uma coisa meio babaca de se fazer, sei lá, já somos tão modernos que não precisamos disso, porque é perda de tempo, então o melhor, talvez, seja só viver o concreto, nada de abstrato, e qualquer interpretação mais profunda das coisas é abstrato demais para o meu entendimento. Depois dessa frase, me senti metalinguisticamente impedido de continuar a professar baboseiras pela internet, mas aí eu pensei que isso é só uma possibilidade de interpretação dentre várias que existem dentro de mim, dentro várias que existem dentro do mundo! E que justamente esse impedimento que eu vejo de não conseguir ir longe nas ideias, por meus pensamentos já terem sido pensados, é que me faz gerar tantas interpretações menores dentro de mim, todas mais rasas, simples, porém são muitas. Talvez aconteça da nossa sociedade gerar, por especialização do trabalho, por tédio, por preguiça,seja pelo que for, um impulso à criação abstrata em massa, por não haver mais sustentação para um único sentido, porque agora tudo o que é humano já pode ser interpretado em livros - tudo se misturou, tudo interagiu. A falta de sentido do um nos fez criar vários. Eu criei vários, e esse é um, bem longo e globalizante. O problema dessa necessidade abstrata é quando ela se fixa em um pensamento e vai embora (doença mental?). Agora, perante esses pensamentos e esses devaneios abstratos longos, eu deva parar e perceber que todos eles já foram ditos e calar-me, muito embora eu saiba que esse papo de que não posso falar porque já foram ditos nunca me fez calar, e se você perceber bem, eu tô até agora dizendo coisas aqui que com certeza qualquer um já pensou, mas estou falando porque estou com vontade e espero que alguém tenha vontade de ler. Diante disso, eu assumo pra mim mesmo, que quero parar de escrever e ir dormir porque já são 8 horas da manhã. Parei de abstrato, vou pro concreto - é a natureza humana.

2 comentários:

Luã Ferreira Leal disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Luã Ferreira Leal disse...

De que adiantam as abstrações, em um mundo em que você é impelido a agir.Mesmo se sua vontade for ficar parado,inerte como um folha de samaumeira,"Ação é Fundamental". Atualmente, a sociedade não nos permite pensar que é possível acreditar que apenas as ideias movam o mundo. O que o move são ações, algumas revolucionárias, outras conservadoras, na sociedade. Se você quer erradicar o analfabetismo, não apenas reflita sobre os projetos de alfabetização, vá você mesmo encontrar um analfabeto e começo a ensiná-lo a ler e a escrever.De fato, "alguém já pode ter pensado", porém realizar ações é algo mais inovador e desafiador de ser percebido no mundo.