Preciso postar uma linda poesia do Mário Quintana, que conseguiu expressar muito bem essa história de romper os limites entre o mundano e o erudito, ou seja, conseguiu expressar o fim da extratificação de valores - brasileiro adora se despreocupar. É a poesia IV da "Rua dos Cataventos". Aí vai:
Minha rua está cheia de pregões.
Parece que estou vendo com os ouvidos:
"Couves! Abacaxis! Caquis! Melões!"
Eu vou sair pro Carnaval dos ruídos,
Mas vem, Anjo da Guarda... Por que pões
Horrorizado as mãos em teus ouvidos?
Anda: escutemos esses palavrões
Que trocam dois gavroches atrevidos!
Pra que viver assim num outro plano?
Entremos no bulício quotidiano...
O ritmo da rua nos convida.
Vem! Vamos cair na multidão!
Não é poesia socialista... Não,
Meu pobre Anjo... É... simplesmente... a Vida!...
Um comentário:
Para se contrapor a essa implosão da metafísica é importante relembrar Augusto dos Anjos nos poemas Vozes da morte e o Caixão Fantástico:
"Agora, sim! Vamos morrer, reunidos,"
" Cinzas, caixas cranianas, cartilagens"
É...simplesmente...a Morte!
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