domingo, 29 de novembro de 2009

salve malandro!

Vou falar pra vocês: é bom mesmo aproveitar esse papo de liberdade pra argumentar ao favor próprio. É mesmo como se eu estivesse fazendo aqui o advogado da malandragem, mínima que seja. Porque, ai, nessa vida moderna, desses homens modernos cansados, cansados, cansados, o orgasmo se tornou tão raro! E o pior é que eles criam milhares de dispositivos para o orgasmo de todos, mas parece que trabalhar para sustentar tudo é mais imprescindível. Pelo menos essa é a sensação deles. A minha sensação é de que essa história de liberdade pra lá, liberdade pra cá, que é conquista desse grandes homens do trabalho, conquista árdua e muito trabalhosa, é uma ótima, uma excelente desculpa para justificar a utilização indiscriminada de todos esses apetrechos modernos. Mas eu vou logo dizendo que não se pode fazer apologia à malandragem - e não se pode mesmo: o que eu estou fazendo aqui é só uma defesa, porque, oras, todos dizem que somos livres para fazermos o que quisermos! Além disso, logicamente, eu não poderia fazer essa apologia: a possibilidade de argumentar em defesa do malandro só existe se muitos outros homens modernos continuarem vivendo para trabalhar a sustentação imprescindível de tudo. Os malandros têm que ser malandros o suficiente para serem longevamente malandros, têm que sacar que é necessário um monte de coisa, fazer que sim com a cabeça quando toma uma dura; eles têm que mostrar que sabem perfeitamente o que deviam estar fazendo - e aí, quando o guarda der as costas, têm que fazer o que quiserem e, só em última instância, se sua vida estiver em jogo, se sua malandragem estiver sendo ameaçada de integridade, se seu caráter estiver sendo posto em dúvida e quiserem julgá-lo execrável, é que eles devem expor as contradições do paradigma da liberdade, para poderem dizer que tudo é nada e nada é tudo e que tudo pode e nada mais é injusto, porque justiça já não faz mais sentido se podemos interpretar tudo de diversas maneiras. Porque, afinal de contas, toda discussão contemporânea acaba em como cada um interpreta o que acha bom ou ruim. Mas, em todo caso, os malandros só continuam sorrindo e, assim, seduzindo. Sorrindo porque sabem que devem sorrir para terem o que quiserem, sorrindo de um deboche imperceptível de tão bem disfarçado que já está depois de anos de malandragem.

Porque estar no topo é pra poucos.
Porque trabalhar pouco é pra poucos.
Porque é preciso outros pra se viver no total lazer.
Porque é preciso servos para haver senhor.
E quem, no fundo, não quer ser o senhor do lazer?
Parece que o mundo sussurra que isso é o que é pra ser, pra quem tem bons ouvidos...

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