domingo, 17 de agosto de 2008

iminência e seu tom

Luzes e luzes e mais luzes. Naquela avenida famosa, ela abria os braços e girava, como fazia quando criança no quintal da casa de campo. Era tudo tão suave, a brisa gelada, aquelas ruas vazias, ouvia uma música azul na cabeça e nada, nadinha passava por aquela avenida. Ela estava de chuquinhas – estava mesmo, inconscientemente, numa pilha meio infantilóide – com um casaco amarelo com detalhes roxos, era tipo um casaco de ski; vestia também uma calça jeans e um tênis. A noite, que estava muito fria, já estava pra lá de acabada e ela estava realmente a fim de girar na mais famosa e iluminada avenida da cidade.

Letreiros e postes e outdoors e a música cessou e se fez um silêncio urbano. Ouvia seus pés tocando o chão e via-os também, um pisando na frente do outro, fazendo girar, os brilhantinhos que o asfalto refletia, a tinta branca das sinalizações da pista, o meio-fio que passava rápido para as divisões entre as placas de cimento da calçada. Também dava-se conta de uns gemidos e uns sons bizarros que estava emitindo e nem sabia. Até que percebeu que estava caindo para o lado.

Quando seu estômago chiou.

Deu mais uns dois passos catando cavaco, encostou no meio-fio meio sentada, meio ajoelhada, meio apoiada com as mãos e vomitou. E vomitou, e vomitou. Secou a boca na manga do casaco e ficou sentada, com as pernas tronchas e o cabelo molhado de baba, suor e vômito, relfetindo um pouco sobre levantar: estava tudo muito mais que girando. Depois de umas respiradas profundas e lamurientas, mantras repetidos para superar isso, que parecia um karma, levantou, tontinha ainda, e seguiu cambaleando até chegar em casa, com uma cara transtornada, ouvindo os passos e os gemidos e os sons bizarros que ela própria emitia e só conseguia ver e ouvir a ela mesma e mais nada.

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