terça-feira, 5 de agosto de 2008

inspiração

Lembrava do que tinha pensado no ônibus, quando entrara no túnel? Era muito difícil, era exigir demais de um cérebro já tão desgastado, já tão focalizado em outras coisas. Mas de algumas poucas coisas lembrava. Conforme ia se lembrando do que pensara, via as imagens que aqueles pensamentos refletiam, não eles exatamente. Aquelas luzes, amarelas, fortes... Aquela solidão no meio de um monte de gente, aquela solidão dentro do ar condicionado e da cadeira estofada, solidão de quem chega em casa e liga o computador. Ia parar na praça perto de casa e começar a relatar num caderninho a porra toda: a metafísica de sua vida, que iria embutir, as relfexões pesadas, as análises psicológicas, porém, sua consciência não atingia patamares tão altos assim, sua consciência pensava uma coisa de cada vez e sempre empacava obsessivamente, circulando e circulando sem fim uma dúzia de palavras e chavões já clássicos em sua mente. E a sua obsessão começava quando o pensamento lhe vinha. Não lhe deixava prolongar-se, martelava e martelava a mesma idéia, para não esquecer, para chegar em casa, correndo, oleoso e sentar pra escrever aquilo - seria antes, pararia na pracinha do metrô e escreveria lá mesmo, mais rápido. Mas aquilo era um nada, era um tópico frasal, que ainda latejava em sua mente, que não saía daquilo, era uma única coisa, estanque que pulsava freneticamente no seu cérebro. Só se deu conta quando estava na hora de saltar, quando nada ia mais sacolejar e ele iria para a praça finalmente escrever e já sabia como começava: "sempre que entrava no túnel, essas luzes...". Sacou o caderno, fez carinho num cachorro que passeava com o dono e acabou simpatizando com ele, já sentado, apoiou-se e... cadê a caneta. Deixou para fazer em casa e muita coisa podia mudar, ele temia.

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