quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Para mim

Para mim, mais estranho que pensar que penso é pensar que penso em uma língua. Não sei quanto a todos, mas quanto a mim, sei que penso num idioma. Quando estou pensando, penso em todas as palavras escritas, como que idéias borbulhando em minha mente formando imagens das palavras que elas representam. Como chamadas de televisão, que piscam uma palavra de cada vez. Na verdade, mais parece um efeito de animação do Power Point. Enfim, o importante é que penso nas palavras de um idioma, com as letras e os sentidos daquele idioma.

Por que a experiência me permite assimilar primeiramente o que penso com a palavra, e depois, não sei REALMENTE por que, pensar somente nas palavras, como se as palavras estivessem preenchidas do sentimento, ou melhor, como se elas realmente fossem o que representam e eu apenas me apoderasse delas para ser capaz de sentir o que representam? Quando penso por elas, ou seja, sempre, sinto-me fraco, inábil a pensar por mim próprio, já me sinto incapaz de pensar sem que me utilize delas para o fazer. Elas, as palavras, com o passar dos anos, tão cheia, tão independente, tão objetiva, tão lógica, tão coordenada pelas suas semânticas e sintaxes perfeitas! E eu, tão subjetivo, tão incoerente, tão racional, tão subordinado, tão imprevisível. O pior é que é mesmo, tão grandiosa é a linguagem, tão mais velha que eu, tão conseqüente e irracional, que é mesmo muito superior a mim. Eu mesmo nunca conseguiria pensar tão profundamente se não fosse a linguagem. E se me dizem, mas foi o homem que criou a linguagem, eu lhe digo, meu caro, foram todos os homens, de muitos e muitos anos, construindo aos poucos uma tão grande coisa, não fui eu quem a criou, ou nenhum dos humanos, ela que pediu para ser criada, ela que apenas nos subjugou a fazê-la.

Mas e o idioma, por que ele definiu-se, por que tornou-se um diferente em cada parte do mundo, sentem as pessoas de lugares diferentes coisas diferentes? Será o meio o responsável pelo surgimento da linguagem e, por ser diferente em cada parte do mundo, justifica o surgimento de diferentes linguagens? Ainda mais, será a linguagem, na verdade, o mundo?

E o pior de tudo – ou o melhor! Sim, com certeza o melhor! – é que continuo aqui a escrever porque penso através da linguagem e preciso tirá-la de mim, deixá-la pra fora, pra parar um pouco de pensar naquilo e ver aquilo em outro lugar, me fazendo sentir que já não estão mais em mim, já que não as vejo em minha mente. Mas, por mais que eu tente muito, quando parar de escrever aqui, continuarei escrevendo em minha mente, pensando em forma de escrita e essas coisas, han, ninguém será capaz de ler, nem uminha vez, nem eu poderei ler de novo.

Um comentário:

bic_cristal_pocket disse...

:) ja dei por mim a pensar isso mesmo... O sentido das palavras sera todo igual? o conceito corresponde sempre a uma imagem mas pensada em que sentido? no da palvra? com que sílabas? com que história da lingua?
O que me deixa ainda mais curiosa sao as diferentes emoçoes que a mesma palavra, dita inserida em outros contextos, noutras culturas, noutras maneiras de escrever e de ler, desperta nas pessoas...

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