quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Pontos de Vista

Há duas coisas muito curiosas no que diz respeito aos pontos de vista. Uma delas é que possuímos e expressamos muitos pontos de vista, impressão da múltipla vivência de experiências, que proporcionam a nossa assimilação de pontos de vista. Escutamos daqui, lemos de lá, vemos acolá, e absorvemos as impressões que nos são dadas das coisas, impressões de lógicas externas ao sujeito, totalmente coesas e coerentes. O grande problema é o fato de, em nosso cérebro, constarem todas essas coesas, lógicas e coerentes interpretações, que na verdade são mecanismos que a externalidade nos apresenta. Dessa forma, compreende-se a incoerência nas ações, nas expressões de opiniões, travestidas de ações coerentes, de acordo com tal ponto de vista. Essa maldita coerência que nos prende ao incoerente. Não formamos uma única e simples opinião, formamos muitas opiniões e sentimos e vivemos muitas opiniões, externalizamo-nas, mesmo que não percebamos. A outra curiosa coisa é o fato de adquirirmos, dentro de todas as opiniões divergentes que temos sobre tudo, alguma opinião que pareça mais com "o meu ponto de vista". Tentativa falha e pobre de afirmar-se como indivíduo. Queremos, por demonstração de posse, por tentativa de valorização própria, por meios de atrair a atenção do bando, ser alguém individualmente particular, precioso, valorizado, incomum, sozinho e louvado. A nossa razão, que mais me parece um mecanismo para a formação de uma impressão de individualidade, de uma sensação de subjetividade, encaminha, através da busca pela lógica objetiva do todo, a impressão, a partir de muitas idéias uma única idéia, que deva seguir uma coerência e algum tipo de comprovação material. Mas quem condiciona a comprovação material ou a qualidade da coerência compreendida? A razão – que abstração que és tu! – apenas nos dá a impressão de sermos capazes de elucidarmos opiniões nossas, e não apenas dados de observações. A razão parece organizar, da forma que a nossa busca pela vida e pela certeza de manutenção dela até o seu último fio – ou quem sabe apenas por uma fuga física da dor ou de baixas hormonais sensíveis – condicionou quais mecanismos seriam mais úteis para que não se perca a vida – ou para que não se sinta dor ou desconforto ou náusea ou níveis hormonais baixos. E assim, como uma adaptação evolutiva à preservação de uma espécie, a razão estipula que veículos ela utilizará para manter-se no poder do bando, com os melhores argumentos, ou melhor, melhor elucidação de experiências observadas, arrumadas de forma lógica, dando assim o valor a si que garantiria a saciedade da nossa busca por pontos de vista individuais, que demonstram quase que bruscamente a valorização (por que não) instintiva da vida. E como o que temos são sensações de vida, os “nossos” pontos de vista são na verdade sensações de certeza, de individualidade, de permanência terrena, de dominação das impressões que se tem, o que seria a dominação das experiências, ou seja, do seu próprio mundo, que é na verdade uma ilusão de propriedade, visto que nenhuma experiência que se entende como própria realmente a é, é apenas uma observação imparcial que tendemos a querer particularizar.

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