quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Fim de Tarde na Cachoeira

É o "Fim de Tarde na Cachoeira", que agradável e bonito isso pode ser. O sol se pondo, o verde, a conversa descontraída ao som do dedilhar de um violão, a água ali, pronta para beber, e ainda aquela sensação de que aquilo era o que realmente se buscava. É a tarde e é a cachoeira.
Até que vieram os mosquitos, o calor, o cansaço da andada pelas pedras, o trambolho do violão, nao há mais água que dê vontade de beber, a conversa é nervosa. E o pior, gente passando, e mais gente passando e passando pela minha mente o que pensam de sobre mim. E não é a primeira impressão a que fica? A primeira impressão que passei foi péssima. Suado, sujo, cheio de mosquitos, com o violão na mão, cansado, sem conseguir andar pelas pedras. Aí está o Fim de toda tarde na cachoeira.
É o fim que nos lembra que não só observamos, somos observados. Quem alguma vez na vida não parou para pensar sobre si como quem se vê por uma esfera exterior? Daí vêm todas as coisas que sentimos. Começamos a ver o que sentimos, e não simplesmente sentí-lo. Somos capazes de ver e compreender o que somos. E assim, o Fim da Tarde parece estar indo pelo Fim. O que a Cachoeira garantiria de bem-estar, o Fim da Tarde tirou, veio para mostrar nossas mazelas, tudo aquilo que pregamos, pensamos sem consciência plena; vemos como realmente somos. Vem a incompreensão.
Porém, antes de pensar sobre mim, no meu fim de tarde, estava bom o meu fim de tarde na cachoeira. Mas percebi, ao vir a tona a consciência - noção de si como indivíduo para os outros - minhas incongruências e incoerências. E como numa busca sem fim, tento encontrar um meio de mudança.
Mas nao quero mudar, quero uma saída. E a saída que vi foi compreender. Ao buscar mudar, compreendi que compreender é só o que posso. E no fluxo progressivo, sem saber o real por quê, entendi que lamentar o meu Fim de Tarde só me permitia não sentir.
Sem a consciência, sentíamos. Com a consciência, pudemos observar por 3a pessoa. E como surgiu a consciência? Através da comunicação reportando a morte. A morte nos permitiu ver o não ser. E a consciência nso permitiu ver que éramos, que estávamos. Nos permitiu ver o que sentimos. E se vemos o que sentimos, podemos negá-lo, ver a falsidade em tudo, ver a impossibilidade em tudo. Ou então, podemos sentir pela segunda vez. Sem consciência, sentir era apenas tátil. Com a consciência sentir passou a ser interpretado, racionalizado, analisado, posto como físico. Assim, compreendemos que só se sente, mais nada além disso e, sendo isso tudo o que nos é posto, podemos tornar isso verdadeiro.

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