segunda-feira, 22 de outubro de 2007

Vôo com destino a...

Agora me peguei pensando nas minhas possíveis concepções de mundo. Sendo um policial do Bope, por exemplo, poderia dar mais ou menos valor à vida, conceberia minhas concepções com experiências bem mais amargas e alertas. Poderia tornar-me um cientista, também, quem sabe! A visão objetiva, matemática, metódica, com certeza me concederia uma forma mais racional de compreender tudo, a contemplação seria meu trabalho, seria de lá meu âmbito social, seria através da contemplação, de tudo, de todos, que formaria minha essência. Muito possivelmente me excluiria, me ausentaria, me analisaria mais que tudo, Quem sabe, se fosse eu algum profissional técnico, não me tornaria mecânico, rotineiro e, ao mesmo tempo, “problematista” – criaria e solucionaria problemas de todo modo e de todos os modos. Mas o mundo técnico se divide: há o técnico da matéria e o técnico humano. Sendo material, resolveria tudo aquilo que não dissesse respeito a relações humanas, a sentimentos, a sensações. Se fosse o humano, resolveria tudo o que não fosse objetivo, que não fosse exposto a interpretações subjetivas e válidas ao mesmo tempo. E se falo de divisões, lembro que a carreira científica, vanguardista, acadêmica e contemplativa também se divide nas mesmas duas: ciências humana e exata. Porém, quanto a essa divisão, não vejo grandes diferenças, que pudessem mudar a forma cientifica de ver o mundo. Pelo contrário, a ciência – no sentido de analisadora – nos leva, seja humana ou exata, material, a crer que somos um grande e complexo e inacreditavelmente existente nada. Ou quase nada. De forma a ver comportamentos e incoerências de mentalidade ao longo dos séculos, as relações ao longo do tempo e na atualidade, assim como coerências também, de forma a ver obrigatoriedades físicas, químicas. Generalizamos, tornamos tudo o mesmo. Forçamos o tudo dentro de uma caixa apertada. Em contrapartida, se sou técnico, tanto do homem quanto do meio, sinto-me capaz, auto-confiante, entendo que guio minha vida. Também, pudera, se, no quase nada que possivelmente se é, podemos mudar quase tudo aquilo que nos define, para nos definir melhor, é óbvio que um pouquinho dessa prepotência iria se esguiar por cima de mim.

Mas que maldade que foi feita conosco. Nunca seremos tudo, nem nunca poderemos saber. Às vezes penso que foi mesmo uma bruxa, ou a abstração dela, que nos amaldiçoou, humanos, ou à nossa abstração.

E, como não podia faltar, sobrou a ocupação que se abstrai, e não busca fixar nem se sentir sendo. É como um malandro que surrupia as penalizações que sofre pelos seus surrupios, inclusive pelos surrupios das penalizações. Aquela que ri do que vê. Aquela que ri do que é. Esta é a alma do artista.

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